A turbulência no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) atingiu novos picos com as recentes renúncias de altos dirigentes e o crescente descontentamento interno. A crise, que já dura meses, reflete um ambiente de desconfiança e instabilidade, tendo como cenário a gestão do presidente Márcio Pochmann, nomeado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Na última semana, o IBGE enfrentou uma série de renúncias, incluindo a de Elizabeth Hypolito e João Hallak Neto, respectivamente diretora e diretor-adjunto de Pesquisas Econômicas. De acordo com fontes internas, outros dois diretores, Ivone Batista e Patrícia Costa, também devem deixar seus postos até o fim de janeiro. Os servidores do instituto têm expressado insatisfação crescente com a atual administração, principalmente por causa da criação da Fundação IBGE+, uma entidade que, segundo críticos, representa uma paralelização das funções do IBGE e coloca em risco sua autonomia.
“Estamos assistindo a uma série de posturas autoritárias e desrespeitosas dentro da instituição. Decisões estão sendo tomadas sem consulta prévia aos diretores e aos servidores. Isso tem comprometido a qualidade do trabalho no IBGE”.
afirmou a Associação dos Servidores do IBGE (ASSIBGE) em comunicado oficial.
O sindicato aponta a falta de transparência e diálogo como fatores centrais na deterioração da relação com a gestão de Pochmann, que, desde sua nomeação, tem enfrentado dificuldades em equilibrar as demandas internas e externas.
A Fundação IBGE+, instituída sem o devido debate com os servidores, tem sido um ponto de tensão. A criação da fundação foi realizada de maneira sigilosa e, segundo os sindicatos, não passou por discussões amplas, o que gerou um desconforto generalizado. “A Fundação IBGE+ foi criada em segredo, sem que houvesse uma análise crítica e coletiva sobre suas implicações para a instituição e seus funcionários”, destacou a Executiva Nacional do ASSIBGE.
Em resposta a esses questionamentos, a presidência do IBGE emitiu um comunicado alegando que a Fundação IBGE+ foi formalmente aprovada pelo Ministério do Planejamento e Orçamento, e que a entidade está alinhada com os princípios de governança do instituto. No entanto, o sindicato não concorda com o processo e reafirma que a fundação deve ser suspensa até que se estabeleçam um diálogo mais transparente e participativo.
“A fundação foi criada sem nosso consentimento e sem um debate aprofundado sobre suas funções. Isso fere a autonomia do IBGE e enfraquece sua capacidade de gerar dados públicos confiáveis”.
completou o comunicado.
Além da fundação, outros pontos de frustração incluem a mudança de sede do IBGE, que transferiu parte de suas operações do centro do Rio para o bairro do Horto, na Zona Sul da capital. A mudança, além de aumentar os custos operacionais, resultou em um maior tempo de deslocamento para os servidores, o que impactou negativamente o desempenho diário. Para a ASSIBGE, esse tipo de decisão, tomada sem a devida consulta, tem prejudicado a logística e a qualidade de vida dos servidores, tornando o ambiente de trabalho ainda mais tenso.
Protesto recente
A crise de governança no IBGE também é refletida na instabilidade nas relações com os servidores. Em setembro de 2024, um protesto reuniu mais de 220 trabalhadores, que denunciaram a falta de transparência e o processo autoritário de gestão. A greve e os atos de protesto aumentaram após o anúncio de novas medidas, como a implementação de trabalho híbrido, que geraram uma onda de descontentamento por quebra de acordos prévios.
O impacto dessa crise não se limita ao ambiente interno. O IBGE, responsável por produções estatísticas essenciais, como o Censo Demográfico, é visto como um pilar da confiabilidade dos dados públicos do Brasil. A gestão de Pochmann, ao ignorar as reclamações de sua equipe e implementar mudanças sem um processo democrático, tem enfraquecido a imagem do instituto, colocando em risco sua credibilidade nacional e internacional.