
- Trump anunciou tarifa de 50% sobre o café do Brasil, maior exportador global
- Consumo nos EUA pode cair, pressionando preços internacionais da commodity
- Analistas veem risco de queda nos preços e redirecionamento do café para a Europa e Ásia
A taxação de 50% sobre o café brasileiro, anunciada por Donald Trump, pode mudar a dinâmica global da commodity mais consumida no planeta. Os Estados Unidos são o maior mercado consumidor, enquanto o Brasil lidera a produção e as exportações mundiais.
Nesse sentido, Márcio Ferreira, presidente do Cecafé, afirma que a tarifa tende a reduzir o consumo nos EUA, além de pressionar os preços para baixo. Além disso, ele lembra que o café movimenta US$ 43 por dólar importado nos EUA e responde por 1,2% do PIB americano, contra 0,89% do PIB brasileiro. Desse modo, para ele, a medida não faz sentido econômico, já que a balança comercial entre os dois países é favorável aos norte-americanos.
Impacto já atinge a Bolsa e pode piorar
Em 2024, os EUA compraram 8,1 milhões de sacas de café brasileiro, 34% a mais que no ano anterior. O volume representou 16,1% das exportações do Brasil. De janeiro a maio de 2025, as compras chegaram a 2,9 milhões de sacas, o equivalente a 17,1% do total exportado.
Ademais, com essa dependência mútua, o mercado já reage. O café arábica na ICE caiu de US$ 4 por libra em março para menos de US$ 3 em julho. A expectativa de um ambiente mais calmo, reforçada pelo último relatório do USDA, também contribuiu para o recuo. Mesmo com consumo ainda acima da produção, a diferença entre os dois recuou, e os estoques aumentaram.
Segundo Laura Clavijo, economista da Bancolombia, os prêmios de origem também começaram a cair. No caso da Colômbia, por exemplo, o prêmio recuou 12% em relação a 2024. Portanto, isso indica que o setor busca se ajustar a preços mais estáveis, após anos marcados por instabilidade climática e especulação.
Brasil pode redirecionar produção
Apesar da possível perda no mercado americano, Ferreira acredita que a demanda asiática pode compensar parte da queda. Ele cita a China como exemplo de país com forte expansão do consumo, especialmente entre os jovens. A tendência é que o Brasil busque esses mercados com mais força nos próximos meses.
Além disso, Tomás Araujo, da StoneX, concorda. Segundo ele, o café brasileiro deve ganhar espaço na Europa, onde os contratos futuros se adaptam bem ao arábica nacional. Além disso, ele lembra que os torrefadores dos EUA terão de repassar os custos ao consumidor, o que tende a reduzir o consumo local.
Nesse sentido, Oran van Dort, do Rabobank, vê impacto também sobre os concorrentes. Desse modo, Colômbia, Vietnã, América Central e Indonésia podem ganhar espaço nos EUA, mas cada país enfrenta desafios próprios. No caso colombiano, por exemplo, as chuvas afetaram a colheita e dificultaram a logística. Em junho, a produção caiu 22% na comparação anual.
Oferta alta e incerteza no radar
O Brasil espera 65 milhões de sacas na safra 25/26, mantendo o ritmo da temporada passada. A maior parte virá de áreas já em produção, com bom desempenho. Caso o clima siga favorável, o país poderá bater novo recorde em 2026.
Além disso, Ferreira destaca que o último pico foi em 2020, antes da geada, com 70 milhões de sacas. Já o boom de preços entre 2021 e 2023 decorreu de eventos climáticos e da atuação de fundos de investimento. Agora, com estoques cheios, o setor atua com mais cautela.
Por fim, a dúvida, segundo os analistas, é se Trump seguirá adiante com a tarifa ou se está apenas pressionando o Brasil por motivos políticos. “Ninguém sabe se é retórica ou plano real”, conclui Van Dort.