Um júri na Filadélfia determinou que a Bayer, empresa que adquiriu a Monsanto em 2018, deve pagar cerca de US$ 2 bilhões a John McKivison. O paciente de linfoma não Hodgkin que alegou que o herbicida Roundup da empresa causou seu câncer. Essa é a maior condenação já recebida pela Bayer em relação ao Roundup e representa um golpe significativo para a empresa.
A gigante farmacêutica e química sofreu uma queda acentuada em suas ações depois da condenação.
O veredito representa um golpe significativo para os esforços do CEO da Bayer, Bill Anderson, que tem buscado reerguer a reputação da empresa e aumentar seu valor de mercado. Apesar da promessa de gastar até US$ 16 bilhões para resolver as ações legais relacionadas ao Roundup, a Bayer não conseguiu conter os problemas ligados ao herbicida.
Motivo do processo
O processo em questão foi movido por John McKivison, que alegou que o uso prolongado do Roundup, tanto no trabalho quanto em casa, contribuiu para o desenvolvimento de seu câncer. O júri concedeu a McKivison US$ 250 milhões em danos compensatórios e impressionantes US$ 2 bilhões em danos punitivos.
A conclusão do júri foi que o Roundup é um produto defeituoso e cancerígeno e que a Monsanto (agora parte da Bayer) foi negligente e não alertou sobre os perigos do herbicida. Esse veredito histórico é um marco de 50 anos de conduta questionável da Monsanto e enfatiza a negligência da empresa em relação à segurança humana.
Bayer Pretende Recorrer
A Bayer, no entanto, continua a defender a segurança do Roundup. A empresa anunciou que recorrerá do veredito e acredita que conseguirá eliminar ou reduzir a indenização. A empresa continua a afirmar que seus produtos podem ser usados com segurança e não causam câncer, argumentando que reguladores em todo o mundo concordam com essa avaliação.
Mesmo assim, especialistas acreditam que este veredicto pode complicar ainda mais a situação da empresa, uma vez que os danos compensatórios substanciais podem tornar a resolução dos cerca de 40.000 casos pendentes nos EUA mais desafiadora e dispendiosa.
A controvérsia em torno do Roundup gira em torno do ingrediente ativo glifosato. Em 2015, um relatório da Organização Mundial da Saúde sugeriu que o glifosato poderia ser cancerígeno. Enquanto a Monsanto refutou essas alegações, milhares de pacientes com linfoma não Hodgkin começaram a processar a empresa.
Consequências financeiras
Além dos problemas legais, a Bayer enfrenta desafios financeiros. Entre esses está o pagamento de altos níveis de dívida e a necessidade de encontrar maneiras de expandir sua divisão farmacêutica após a perda da proteção de patentes para dois medicamentos de sucesso. Analistas sugerem que a empresa pode ter que revisar sua política de dividendos em um futuro próximo.
Após o anúncio do veredito, as ações da Bayer caíram em Frankfurt, destacando o impacto financeiro significativo dessa condenação e a preocupação dos investidores.
Debate contínuo sobre segurança
O debate sobre a segurança do glifosato e do Roundup continua, com reguladores dos EUA e da União Europeia tendo avaliações divergentes sobre o produto. A pesquisa sobre a relação entre o herbicida e o câncer ainda está em andamento, e o veredito de McKivison destaca a complexidade desse problema.
Embora a Bayer já tenha pago mais de US$ 10 bilhões em indenizações a pacientes com câncer que processaram a empresa, muitos casos ainda estão pendentes. O veredito de McKivison pode influenciar o resultado desses casos e adicionar incerteza ao futuro da Bayer em relação ao Roundup.
A Bayer já enfrentou vereditos desfavoráveis em casos semelhantes, com júris apoiando pacientes com câncer e concedendo indenizações substanciais. No entanto, muitos desses vereditos foram posteriormente reduzidos por juízes. O caso de McKivison certamente alimentará o debate sobre a segurança do Roundup e suas implicações legais e financeiras para a Bayer.
Neste momento, o futuro da empresa permanece incerto. O próximo julgamento envolvendo a divisão Monsanto da Bayer está programado para ocorrer em Delaware no mês que vem.