
- Setor de saúde alerta para alta de até 30% em insumos médicos, caso Brasil retalie tarifa de 50% dos EUA.
- Equipamentos como tomógrafos e anestesia são os mais afetados, com riscos à oferta no SUS e hospitais privados.
- Substituição por fornecedores da China e Índia levaria até 2 anos, com risco de queda na qualidade e prejuízos à saúde.
A imposição de tarifas de 50% por parte dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros reacendeu o temor de retaliações do governo Lula. Caso o Brasil responda com medidas equivalentes, insumos médicos podem ficar até 30% mais caros, segundo representantes da indústria.
O impacto recairia diretamente sobre hospitais públicos, Santas Casas e clínicas privadas, que já enfrentam margens apertadas e orçamentos estagnados. Somente dos EUA, o Brasil importa cerca de US$ 1,7 bilhão por ano em equipamentos e dispositivos médicos.
Tomógrafos, ressonâncias e anestesia lideram a lista de risco
Atualmente, o Brasil movimenta US$ 9 bilhões ao ano em importações voltadas ao setor da saúde. Cerca de 60% desse volume abastece o sistema público, o que inclui hospitais federais, estaduais e municipais. No caso específico das compras vindas dos Estados Unidos, esse índice sobe para 70%.
Além disso, ss produtos mais críticos nessa cadeia são equipamentos de imagem e suporte cirúrgico, como ressonância magnética, tomógrafos, raio-X e aparelhos de anestesia. Por serem de alto valor agregado, com processos rígidos de certificação e operação, sua substituição é complexa e demorada.
Ademais, Paulo Henrique Fraccaro, CEO da Abimo, explicou que a troca de fornecedores levaria de um a dois anos. O processo exige registros sanitários, validação técnica, certificações laboratoriais e treinamento de profissionais, o que impede mudanças rápidas. “Não basta comprar um equipamento novo. É preciso garantir que ele funcione, seja seguro e que os profissionais saibam operá-lo”, afirma.
Alternativas incluem China e Índia, mas com riscos elevados
A possibilidade de substituir os EUA por fornecedores da China, Índia ou Turquia já está sendo estudada por alguns grupos hospitalares. No entanto, especialistas alertam para os riscos de acelerar esse processo sem os devidos controles técnicos.
Ademais, durante a pandemia de Covid-19, o Brasil flexibilizou os processos de importação para tentar garantir o abastecimento emergencial. Como resultado, diversos equipamentos chegaram ao país sem funcionar corretamente. Alguns sequer foram instalados, gerando prejuízos financeiros e riscos à saúde dos pacientes.
Sendo assim, por esse motivo o setor teme que uma nova onda de abertura sem critérios repita erros passados. “O que vimos na pandemia foi um alerta: se não houver controle, entra equipamento de baixa qualidade, que compromete diagnósticos e cirurgias”, ressalta Fraccaro.
Além disso, existe uma dependência estratégica dos EUA em itens com tecnologia embarcada e suporte técnico local. Portanto, a migração para novos fornecedores exigiria também a adaptação de protocolos, softwares e manutenção técnica, o que aumenta o custo operacional no médio prazo.
Sistema público pode ser o mais prejudicado
Como boa parte dos equipamentos é adquirida por meio de licitações, o impacto maior tende a recair sobre o Sistema Único de Saúde (SUS) e instituições filantrópicas. A elevação de preços compromete a expansão de leitos, modernização de equipamentos e oferta de exames de alta complexidade.
Além disso, a indústria nacional ainda não possui escala suficiente para suprir toda a demanda com rapidez. Embora existam avanços em algumas áreas, a produção local depende de insumos importados, muitos deles também afetados por tarifas ou variações cambiais.
Por fim, diante do cenário, especialistas defendem que o governo federal evite adotar medidas de reciprocidade que possam afetar setores sensíveis, como saúde e alimentação. Desse modo, a busca por diálogo diplomático e exclusões setoriais ganha força como caminho para reduzir os impactos à população.