Medo urbano

Carbono Oculto sacode a Faria Lima e mostra até onde o PCC chegou

Megaoperação transformou o coração financeiro do Brasil em cenário policial e deixou investidores em alerta máximo.

CCP Faria Lima Financial Center
CCP Faria Lima Financial Center
  • Operação Carbono Oculto transformou a Faria Lima em cenário de ação policial e paralisou escritórios
  • Ações da Reag desabaram 15% enquanto o Ibovespa fechou em alta de 1,32% próximo do recorde histórico
  • Investidores agora temem os desdobramentos da Carbono Oculto II e até onde vai a infiltração criminosa no mercado

Logo no início da manhã de quinta-feira (28), a rotina da Avenida Faria Lima, em São Paulo, virou cenário de filme policial. Sirenes, camburões em alta velocidade e policiais fortemente armados ocuparam o coração financeiro do Brasil. Era a largada da Operação Carbono Oculto, que buscava provas da infiltração do Primeiro Comando da Capital (PCC) em fundos de investimento e outras estruturas da economia formal.

Gestores de recursos, empresários e funcionários de escritórios viram o dia virar de cabeça para baixo. Em vários prédios, a segurança só liberou a entrada após identificação rígida, e os agentes lacraram imóveis depois de buscas que duraram horas. Para quem estava no local, a descrição foi unânime: “foi uma loucura”.

A rotina interrompida

Próxima à Reag Investimentos, principal alvo da operação, uma empresária relatou que os agentes vasculharam quatro andares do prédio em que trabalha. Segundo ela, os agentes contrataram chaveiros para abrir as portas e evitar arrombamentos. Ao fim, fitas lacraram as salas da gestora.

Em um café da região, o dono pediu que policiais não ficassem exibindo metralhadoras na porta. “Os clientes se assustaram, e eu também fiquei com medo”, disse.

Já em frente ao Shopping Iguatemi, um recepcionista relatou que o movimento de policiais entrando e saindo com caixas apreendidas só terminou às 19h. “Eles passaram o dia inteiro aqui”, contou.

Desse modo, para muitos a operação mudou a percepção sobre segurança na avenida, tradicionalmente associada apenas a negócios de alto nível.

Mercado em choque, mas Bolsa em alta

Enquanto a tropa vasculhava escritórios, a Bolsa de Valores seguia em direção oposta. O Ibovespa fechou em alta de 1,32%, aos 141.049 pontos, seu segundo maior nível da história.

Ademais, a exceção ocorreu com a Reag, cujas ações caíram 15% após a confirmação de que a empresa era o alvo central da operação. O dólar recuou 0,19%, a R$ 5,40, mostrando que o impacto imediato ficou restrito às empresas diretamente envolvidas.

Nos bastidores, porém, investidores trocavam mensagens em grupos privados, tentando antecipar quando viria a “Carbono Oculto II”.

A ameaça da infiltração

Um gestor experiente da região reconheceu que o tema “crime organizado” só recentemente entrou na lista de preocupações da Faria Lima. Então, a operação mostrou que havia fundamento: a sofisticação da engenharia financeira usada pelos criminosos revelou a participação de profissionais do próprio mercado.

Por fim, segundo ele, a descoberta reforça que a linha entre economia formal e ilícita pode ser mais tênue do que muitos imaginavam. Agora, a grande dúvida é até onde o crime já conseguiu penetrar dentro do mercado financeiro brasileiro.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.