
- A China prorrogou até 26 de novembro a investigação sobre a importação de carne bovina, iniciada em dezembro de 2024.
- Brasil e Argentina, principais fornecedores, podem ser atingidos por possíveis medidas protecionistas.
- O setor brasileiro acompanha com cautela e teme impacto nas exportações em caso de elevação de tarifas.
O Ministério do Comércio da China anunciou nesta quarta-feira (6) a prorrogação por três meses da investigação sobre as importações de carne bovina iniciada em dezembro de 2024. A decisão adia o desfecho de um processo que preocupa os principais exportadores do setor, incluindo Brasil e Argentina.
Com o novo prazo, as autoridades adiaram a conclusão da análise, antes prevista para o fim de agosto, para 26 de novembro de 2025. Segundo autoridades chinesas, o motivo é a complexidade da apuração e a quantidade de dados a serem processados. O risco, no entanto, é que o Brasil fique mais vulnerável a medidas de proteção que podem surgir ao final do processo.
Investigação atende a pedido de produtores locais
As autoridades abriram o processo após criadores chineses alegarem prejuízos com o aumento das importações de carne bovina. Eles argumentam que os produtos estrangeiros, mesmo com tarifas em vigor, estariam pressionando a produção interna e reduzindo margens de rentabilidade.
Atualmente, o Brasil paga uma taxa de 12% sobre o volume exportado de carne bovina à China. Ainda assim, o país asiático se mantém como o maior comprador da proteína nacional, respondendo por uma fatia significativa das exportações brasileiras. Apenas em 2024, exportadores embarcaram mais de 1 milhão de toneladas para lá.
A investigação busca avaliar se há necessidade de aplicar salvaguardas, como elevação de tarifas ou cotas, para proteger o setor doméstico. A Organização Mundial do Comércio (OMC) autoriza esse tipo de medida, desde que autoridades a justifiquem com apuração técnica e transparente.
Embora o processo tenha origem em pressões internas, a decisão final poderá afetar significativamente o comércio com os principais parceiros da China. Nesse contexto, tanto o Brasil quanto a Argentina acompanham de perto os desdobramentos da investigação.
Brasil é o maior exposto ao risco
A dependência do mercado chinês por parte dos frigoríficos brasileiros tem crescido ano após ano. Grandes companhias como JBS, Marfrig e Minerva mantêm linhas específicas voltadas para atender à demanda do país asiático. Qualquer restrição nova poderia impactar diretamente as receitas dessas empresas.
Além disso, a extensão do prazo traz incerteza para exportadores que já operam com margens apertadas. Caso Pequim opte por adotar medidas protecionistas ao final da apuração, o setor brasileiro terá pouco tempo para se adaptar antes das vendas de fim de ano, tradicionalmente fortes.
O Itamaraty já se manifestou de maneira informal, afirmando que acompanha o processo com atenção. Internamente, o governo tem buscado manter diálogo técnico com as autoridades chinesas, além de reforçar a qualidade e rastreabilidade da carne produzida no Brasil.
Do lado do setor privado, há uma mobilização em curso junto a associações comerciais e representantes locais na China. A estratégia é esclarecer os benefícios da importação de carne brasileira para o consumidor chinês e evitar distorções na análise em curso.
Prorrogação adiciona tensão ao comércio global
A extensão da investigação não ocorre em um vácuo geopolítico. A China enfrenta pressões internas para estimular sua economia e, ao mesmo tempo, vem reagindo às barreiras impostas por outros países, como Estados Unidos e União Europeia, com mais protecionismo.
Nesse contexto, a carne bovina estrangeira pode acabar sendo usada como símbolo de controle estatal sobre setores estratégicos. Pequim tem dado sinais de que não hesitará em intervir, se entender que há risco à estabilidade econômica ou à segurança alimentar.
A narrativa oficial, no entanto, mantém um tom conciliador. Um porta-voz do Ministério do Comércio afirmou que o país seguirá a legislação e tomará uma decisão “objetiva e imparcial”. Também prometeu manter diálogo com todos os envolvidos, inclusive exportadores.
Ainda assim, a falta de clareza sobre os critérios da investigação alimenta preocupações no mercado. Exportadores pressionam por transparência no processo e temem que fatores políticos ou populistas influenciem a decisão.