Barreira oculta

Cartão “100% brasileiro” pode não salvar Moraes: regulamento da Elo prevê veto por sanções dos EUA

Banco do Brasil emitiu cartão Elo ao ministro do STF, mas regras internas podem barrar uso devido à Lei Magnitsky.

Alexandre de Moraes
Alexandre de Moraes - Foto: Bruno Peres/Agência Brasil
  • Banco do Brasil emitiu cartão Elo a Moraes após bloqueio de bandeira americana.
  • Regulamento da Elo impede relações com clientes sancionados por EUA e ONU.
  • Conexões internacionais da Elo podem barrar o uso do cartão por Moraes.

Após ter um cartão internacional bloqueado por causa das sanções impostas pelos Estados Unidos, o ministro do STF Alexandre de Moraes recebeu do Banco do Brasil um cartão de crédito Elo, bandeira que se apresenta como “100% brasileira”.

Mas o alívio pode ser apenas aparente. O regulamento da própria Elo inclui cláusulas que podem impedir Moraes de usar o novo cartão, já que a empresa obriga bancos parceiros a respeitar sanções emitidas pelo Tesouro dos EUA e pela ONU.

Regras em conflito

O estatuto da Elo, com mais de 300 páginas, traz exigências claras: participantes do sistema de pagamentos não podem manter relação com clientes sancionados por organismos como o Departamento de Estado americano ou o OFAC, órgão que administra ativos estrangeiros.

A sanção contra Moraes, assinada pelo secretário de Estado Marco Rubio e transmitida ao OFAC, cumpre exatamente essas condições. Ou seja, a própria bandeira nacional impõe restrições que podem enquadrar o ministro.

Isso mostra que, mesmo com o discurso de independência e de ser “100% brasileira”, a Elo também precisa respeitar normas internacionais ligadas a parceiros estratégicos.

Elo não está isolada

Apesar de processar operações dentro do Brasil, a Elo mantém conexões externas. As transações em reais, por exemplo, são processadas pela holandesa Adyen, sujeita a sanções americanas.

Além disso, a bandeira tem uma parceria com a Discover, dos EUA, que garante aceitação em mais de 200 países e acesso a 1,2 milhão de caixas eletrônicos no mundo. Essa ligação reforça os riscos de bloqueio.

Assim, mesmo com o cartão emitido pelo Banco do Brasil, Moraes pode enfrentar obstáculos práticos para utilizá-lo em transações fora do país ou em operações ligadas a instituições internacionais.

Silêncio oficial

Procurada pela imprensa, a Elo preferiu não se pronunciar sobre a possibilidade de bloqueio. O Banco do Brasil também não comentou, alegando questões de sigilo bancário.

Bradesco e Caixa Econômica Federal, sócios da Elo, também evitaram falar publicamente sobre o caso. Em reuniões internas, bancos manifestaram desconforto em lidar com a situação.

Enquanto isso, Moraes mantém a rotina e não comentou publicamente as sanções. Em evento em São Paulo, preferiu tratar de temas técnicos ligados à Lei de Improbidade Administrativa.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.