
A China sempre figurou entre os países mais duros contra o Bitcoin, anunciando banimentos oficiais diversas vezes desde 2013. A narrativa construída é de que Pequim rejeita por completo o setor cripto. Mas a realidade é outra: enquanto fala em restrição, o governo mantém sob seu poder um dos maiores estoques de Bitcoin do planeta.
Atualmente, a China é o segundo maior detentor governamental da criptomoeda, atrás apenas dos Estados Unidos. São cerca de 190 mil BTC, avaliados em mais de US$ 22 bilhões (aproximadamente R$ 120 bilhões). Esse contraste expõe uma contradição: o discurso público não condiz com os bastidores estratégicos.
O acúmulo dessas moedas digitais não foi fruto de compras no mercado aberto, mas de apreensões. E um caso em especial mudou o jogo: o colapso do esquema Ponzi PlusToken, em 2020, quando autoridades confiscaram a mesma quantidade que hoje figura nas reservas oficiais.
De inimigo declarado a “baleia silenciosa”
Apesar da postura rígida contra mineradores e investidores locais, Pequim se tornou uma das maiores “baleias” do Bitcoin. O ativo apreendido não foi liquidado, mas incorporado às reservas do governo. Essa decisão, segundo analistas, pode revelar um cálculo estratégico mais profundo.
A posse desses BTC dá à China um trunfo raro em um momento em que moedas digitais começam a influenciar a geopolítica. Enquanto regula de forma severa dentro de casa, Pequim mantém a possibilidade de usar o Bitcoin fora de seu território como ferramenta de pressão ou proteção.
Esse cenário levanta dúvidas: até que ponto os banimentos sucessivos são apenas uma fachada para disfarçar o interesse real? A resposta pode estar justamente no contraste entre a retórica pública e os bilhões guardados em silêncio.
Bitcoin como arma estratégica
O movimento chinês lembra a postura dos Estados Unidos, que também confiscaram grandes quantias em operações contra esquemas ilegais e hoje são líderes mundiais em reservas estatais de Bitcoin. Assim como Washington, Pequim pode estar enxergando a criptomoeda como um ativo estratégico, não apenas especulativo.
Em um mundo marcado por tensões geopolíticas, crises financeiras e fragmentação do sistema monetário internacional, o Bitcoin pode ganhar ainda mais peso como amortecedor financeiro e arma de barganha diplomática.
A lição é clara: por trás das manchetes de proibição, a China reconhece que o Bitcoin tem valor real. E, quando decidir usá-lo, pode virar o jogo global em questão de dias.
Principais pontos
- China anuncia banimentos, mas mantém quase R$ 120 bilhões em Bitcoin sob custódia oficial
- Reservas vieram de apreensões como o caso PlusToken, em 2020
- País pode usar criptomoeda como trunfo geopolítico, à semelhança dos EUA