
- O chip 6G chinês opera em toda a faixa de 0,5 GHz a 115 GHz e alcançou velocidades acima de 100 Gbps em laboratório.
- A inovação insere a China na disputa global, mas especialistas preveem fragmentação de padrões e aumento de custos regulatórios.
- Para o Brasil, a janela até 2030 é chance de preparar infraestrutura, atrair investimentos e explorar minerais críticos estratégicos.
Pesquisadores da Universidade de Pequim e da City University de Hong Kong anunciaram o desenvolvimento do primeiro chip 6G all-frequency, com velocidade até 10 vezes maior que o 5G. O componente, de apenas 11 por 1,7 milímetros, opera em uma faixa contínua de 0,5 GHz a 115 GHz e já demonstrou velocidades superiores a 100 Gbps em testes de laboratório.
A novidade coloca a China em posição de destaque na corrida pela próxima geração de conectividade. Entretanto, especialistas ressaltam que transformar o protótipo em padrão de mercado global dependerá de custos, padronização internacional, cadeias de suprimentos e confiabilidade em escala industrial.
Detalhes técnicos e aplicações do chip 6G
O novo chip se diferencia pela capacidade de mudar de faixa em apenas 180 microssegundos, algo que amplia a robustez em redes congestionadas. Além disso, sua dimensão reduzida facilita a integração em dispositivos móveis e aplicações de Internet das Coisas (IoT).
Nos testes, o chip atingiu velocidades acima de 100 Gbps, superando em múltiplas ordens o padrão atual do 5G. A promessa é viabilizar cirurgias remotas, realidade aumentada, logística avançada e cobertura ampliada em áreas rurais, ao utilizar bandas mais baixas com maior eficiência.
Outro destaque é a integração com algoritmos de inteligência artificial para gestão dinâmica de energia e roteamento, um passo em direção às chamadas redes auto-organizáveis do 6G, que buscam reduzir latência e aumentar eficiência energética.
Disputa geopolítica e risco de fragmentação
De acordo com o economista e doutor em Relações Internacionais, Igor Lucena, o anúncio chinês deve ser visto como parte de uma disputa tecnológica mais ampla, que envolve semicondutores, inteligência artificial e minerais críticos. “Esse movimento dá mais combustível à busca de outros países, principalmente os Estados Unidos, por metais e minerais raros não apenas na Ásia, mas também em países como o Brasil”, afirmou.
A tendência, segundo Lucena, é que o mundo caminhe para um mosaico de padrões. Se a China estabelecer seu próprio modelo, EUA, Japão e União Europeia devem desenvolver alternativas por receios de espionagem e backdoors. Essa fragmentação pode gerar custos adicionais para fabricantes, como duplicação de testes, certificações e stacks de software.
Nesse contexto, regiões sem capacidade de desenvolver padrões autônomos, como América Latina e África, podem adotar soluções prontas exportadas por blocos maiores, o que amplia a dependência tecnológica.
Implicações para o Brasil até 2030
O Brasil tem uma janela estratégica até 2030, quando se espera a chegada do 6G ao país. Isso abre espaço para políticas de espectro, incentivos a P&D e atração de investimentos ligados a componentes e testes. A abundância de minerais críticos, se acompanhada de regulação estável e acordos internacionais, pode posicionar o país como elo importante da cadeia global.
Para empresas, o desafio será avaliar custo total de propriedade, segurança e roadmap de atualizações antes de aderir a qualquer ecossistema específico. Já universidades e centros de pesquisa podem acelerar a formação de talentos em áreas como radiofrequência, fotônica, IA embarcada e segurança cibernética.
A adoção, no entanto, dependerá de cadeias de semicondutores resilientes, foundries compatíveis e certificações globais. Enquanto isso, o anúncio chinês sinaliza aceleração da corrida tecnológica, mas o desfecho ficará condicionado ao equilíbrio entre desempenho, custo, segurança e governança de dados nos próximos anos.