Taxas de juros impulsionadas

Com risco fiscal, Brasil perde relevância em portfólios globais

Taxas de juros caem impulsionadas pela expectativa de avanço no pacote fiscal e pela incerteza sobre a candidatura de Lula em 2026.

Brasil comeca bem em 2020 risco pais cai mais 1
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  • Juros futuros registraram forte queda, com destaque para os contratos de longo prazo, devido à melhora na percepção sobre o risco fiscal
  • A expectativa de que o pacote de corte de gastos avance no Congresso em 2023, após a liberação de emendas, impulsionou a queda das taxas
  • A recuperação de Lula após cirurgia aumentou incertezas sobre sua candidatura à reeleição em 2026, o que foi visto positivamente pelo mercado
  • O IPCA de novembro superou as expectativas, mas o impacto foi moderado, com o mercado mantendo a previsão de aumento da Selic nas próximas reuniões

Na terça-feira (10), os juros futuros apresentaram uma forte queda, refletindo uma correção no mercado após sinais positivos sobre o risco fiscal. Dessa forma, tanto no curto quanto no longo prazo.

O movimento se deu após a sinalização do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), sobre o avanço de um pacote de corte de gastos. A percepção de que o cenário eleitoral de 2026 pode ficar mais aberto cresce, caso o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que recentemente passou por uma cirurgia craniana, não dispute a reeleição.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 caiu de 14,55% para 14,37%. Assim, a taxa do DI para janeiro de 2027 caiu de 14,99% para 14,64%, atingindo o menor valor registrado.

O DI para janeiro de 2029 também terminou o dia em queda, indo de 14,70% para 14,23%. Embora todas as taxas tenham registrado uma queda, a ponta longa da curva, que envolve os contratos com vencimentos mais distantes, foi a que mais se destacou. Dessa forma, refletindo a melhora na percepção sobre o risco fiscal.

Movimento de queda

De acordo com Marianna Costa, economista-chefe da Mirae Asset, o movimento de queda nas taxas foi impulsionado pela correção da curva. No entanto, que havia se esticado nas duas sessões anteriores devido aos temores sobre a votação das medidas fiscais.

O mercado estava preocupado com o adiamento da aprovação dessas medidas para 2025, especialmente após a decisão do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), de rejeitar o pedido do governo sobre emendas parlamentares.

No entanto, a informação de que o governo permitirá o pagamento de R$ 6,4 bilhões em emendas para garantir a votação de medidas fiscais neste ano ajudou a aliviar essas preocupações.

Além disso, a confirmação de que o governo dará início a um “amplo processo de liberação de emendas” também contribuiu para a queda das taxas. Dessa forma, com o mercado interpretando isso como um sinal de que o pacote fiscal pode avançar no Congresso neste ano.

Demais impactos

Outro fator que impactou a movimentação dos juros futuros foi a cirurgia emergencial a que o presidente Lula foi submetido. Ele passou por uma intervenção para tratar de uma hemorragia intracraniana decorrente de um tombo sofrido em outubro.

Apesar de a equipe médica garantir que o presidente está se recuperando bem e não terá sequelas, o episódio gerou incertezas sobre sua candidatura em 2026.

Para o mercado, isso representa uma possível redução da probabilidade de Lula buscar a reeleição. O que, segundo analistas, traz um certo alívio em relação às contas públicas. O governo decidiu ampliar a faixa de isenção do Imposto de Renda, medida criticada como populista, o que também pesa na avaliação fiscal do governo.

“A reação do mercado se dá em cima da ideia de que o cenário político para 2026 ficaria mais aberto, reduzindo a probabilidade de reeleição e aumentando a chance de candidatos com uma postura fiscal mais rigorosa”, afirmou Costa.

Embora as taxas tenham registrado queda, a expectativa para as próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) permanece inalterada. O mercado continua precificando um aumento de 1 ponto percentual na Selic, tanto na reunião de amanhã quanto na de janeiro.

No entanto, a projeção para a taxa terminal, que é a expectativa de taxa final do ciclo de alta, foi ajustada para 15,50%. Portanto, abaixo dos 15,80% projetados anteriormente.

Em relação ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de novembro, que foi divulgado também na terça-feira, o impacto foi mais moderado. O IPCA ficou em 0,39%, acima da mediana das estimativas do mercado, que era de 0,36%.

Com isso, a taxa de inflação acumulada em 12 meses subiu para 4,87%. Apesar de ter superado as expectativas do mercado, a leitura negativa dos preços de abertura do IPCA e a estabilidade nas expectativas de juros ajudaram a conter um impacto maior sobre as taxas de juros futuros.

Sinalização de avanço

Em resumo, o mercado financeiro reagiu positivamente à sinalização de avanço no pacote fiscal. E, ainda, à incerteza sobre a candidatura de Lula em 2026, com as taxas de juros futuras registrando uma forte queda, principalmente nos contratos de longo prazo.

Embora o cenário continue desafiador, especialmente no campo fiscal, o movimento de correção nos juros sinaliza uma melhora nas expectativas econômicas para os próximos anos.