
- O tarifaço de Trump surpreende analistas e força corte de projeções e reavaliações estratégicas
- Goldman prevê PIB de 0,5% em 2025 e alerta para possível mercado em baixa duradouro
- Em meio à volatilidade, analistas recomendam cautela e reforçam a preferência por ativos defensivos
As novas tarifas impostas por Donald Trump pegaram analistas e investidores de surpresa. Com um pacote de medidas que elevou a carga tarifária sobre produtos chineses para impressionantes 104%, o impacto imediato se refletiu nos mercados financeiros.
O índice S&P 500 caiu 1,6% e encerrou o pregão aos 4.983 pontos, acumulando queda de 18% desde a máxima histórica de 6.144 pontos registrada em fevereiro.
O UBS foi um dos primeiros bancos a revisar suas projeções. A instituição reduziu a meta para o S&P 500 no fim de 2025 de 6.400 para 5.800 pontos, sinalizando um desempenho inferior ao esperado anteriormente e implicando queda de 1,4% em relação ao fechamento de 2024.
Além disso, o UBS rebaixou sua visão sobre ações americanas de “atrativas” para “neutras”, refletindo a deterioração das perspectivas econômicas.
David Lefkowitz, diretor de renda variável do UBS, afirmou que:
“O Presidente Trump pegou a gente e o mercado de surpresa ao anunciar tarifas muito mais agressivas do que o esperado.”
Ele acrescentou que não se espera uma reversão rápida e que o banco projeta um crescimento “anêmico” do PIB em 2025.
Recessão entra no radar e bear market se consolida
Com o aumento das tarifas, a possibilidade de recessão nos Estados Unidos passou a ser tratada como real e iminente por diversas instituições. A Goldman Sachs cortou a estimativa de crescimento do PIB para 2025 de 1% para apenas 0,5%, elevando a probabilidade de recessão para 45%.
Para o banco, o mercado americano já entrou em um bear market do tipo “event-driven”, causado diretamente pelas novas políticas comerciais de Trump.
Esse tipo de mercado em baixa, desencadeado por eventos específicos, costuma durar cerca de oito meses. No entanto, caso se transforme em um bear market cíclico, a queda pode durar até dois anos, com recuperação lenta e demorada, levando até cinco anos para que os índices retornem aos níveis anteriores.
A BlackRock também revisou sua estratégia. A gestora rebaixou sua exposição à Bolsa americana de “overweight” para “neutra” e recomendou aumentar a alocação em Treasuries de curto prazo, que passaram de “neutros” para “overweight”.
Jean Boivin, executivo da BlackRock, afirmou que a volatilidade deve persistir e que a empresa encurtou seu horizonte tático para apenas três meses.
“Vemos a volatilidade persistindo por algum tempo, então encurtamos nosso horizonte tático para três meses e diminuímos o risco, passando a neutros em ações americanas e preferindo Treasuries de curto prazo,” escreveu Jean.
Ações caem e Treasuries ganham protagonismo
Com o agravamento do cenário, os grandes bancos e gestoras vêm redirecionando as recomendações para ativos mais seguros. As ações, especialmente as mais sensíveis ao comércio internacional, devem continuar sob pressão enquanto durar a guerra comercial liderada por Trump.
A falta de previsibilidade e a postura agressiva da Casa Branca fizeram Wall Street perder o compasso, forçando ajustes quase diários nas projeções.
Além do corte nas expectativas para os índices, o foco agora recai sobre os títulos do Tesouro americano. Com menor risco e alta liquidez, os Treasuries de curto prazo se tornaram os ativos preferidos para atravessar esse período turbulento.
A própria BlackRock recomendou essa alocação como forma de proteger o portfólio da volatilidade, enquanto os sinais de recessão se fortalecem.
Enquanto cerca de 70 países já tentam negociar com os EUA para evitar as tarifas, o governo americano afirma que não há qualquer tratativa com a China, principal alvo das medidas. A ausência de diálogo reforça o temor de um conflito comercial prolongado e de um enfraquecimento duradouro da economia americana.