
- Alívio geopolítico reduz risco externo, mas cenário fiscal trava cortes de juros no Brasil, segundo o economista Bruno Musa.
- Juros altos desestimulam consumo e elevam custo da dívida, exigindo postura mais firme do governo sobre responsabilidade fiscal.
- Para Musa, investidores devem manter carteiras diversificadas diante da volatilidade macroeconômica global e doméstica.
Com o arrefecimento das tensões no Oriente Médio, o mercado global deu sinais de alívio, deixando de precificar de forma agressiva riscos como choques no petróleo ou escaladas nucleares. Sendo assim, o resultado imediato foi uma melhora discreta no humor dos investidores, com quedas nos preços da commodity e certa recuperação dos ativos.
No entanto, esse alívio geopolítico não foi suficiente para destravar expectativas de cortes de juros no Brasil. Então, segundo analistas, o foco agora recai com força sobre os fundamentos domésticos — especialmente o risco fiscal, que segue como principal obstáculo para a retomada de um ciclo mais firme de flexibilização monetária.
Juros altos e o peso da política fiscal
Para o economista e sócio da Acqua Vero, Bruno Musa, a principal trava atual é fiscal — e ela não se limita ao Brasil. Apesar disso, no cenário local, o peso é mais severo. “O Brasil precisa ter uma abordagem mais rigorosa em relação à sua política fiscal para garantir a sustentabilidade a longo prazo”, afirmou.
Segundo ele, o nível elevado de endividamento restringe a capacidade do Banco Central de cortar juros com segurança. Enquanto outras economias conseguem avançar com cortes nas taxas básicas, o Brasil ainda lida com o custo de manter uma política monetária restritiva.
Esse cenário limita o consumo e desestimula o investimento produtivo. Além disso, como destaca Musa, a manutenção de juros elevados encarece o financiamento da dívida pública. Com isso, cresce a desconfiança do mercado em relação à capacidade do governo de manter as contas sob controle.
Risco fiscal freia competitividade e investimentos
Para o mercado financeiro, a falta de clareza na condução fiscal continua sendo um entrave importante. A instabilidade em torno das metas fiscais para 2025 e 2026 — além das pressões por mais gastos — alimenta a percepção de que o governo não tem margem para ampliar os cortes de juros.
Bruno Musa alerta que, enquanto o país mantiver esse desequilíbrio entre receita e despesa, a taxa Selic seguirá em patamar elevado. “Não há como crescer de forma sustentável com desequilíbrio fiscal crônico. Os juros altos viram uma consequência direta disso”, reforça o economista.
Com a curva de juros mais alongada voltando a subir, setores sensíveis como consumo e varejo sentem os efeitos com mais força. O ambiente de incerteza dificulta também o avanço de projetos de infraestrutura e emperra o apetite de investidores estrangeiros.
Cenário global melhora, mas exige cautela
Apesar da fragilidade interna, o cenário externo se mostra menos hostil no curto prazo. A queda do petróleo, provocada pela distensão diplomática entre Irã, Israel e Estados Unidos, contribui para aliviar a pressão inflacionária global. Esse movimento também ajuda a valorizar moedas emergentes, como o real.
Por outro lado, o alívio pode ser passageiro, especialmente se os Estados Unidos postergarem os cortes na taxa de juros. A possibilidade de mais volatilidade nos mercados globais permanece no radar dos investidores, o que exige cautela nas alocações.
Nesse contexto, Bruno Musa orienta uma estratégia de diversificação nos portfólios. Ele afirma que, embora o Brasil ainda ofereça oportunidades pontuais, o investidor deve considerar alternativas no exterior. “Um portfólio bem estruturado é aquele que resiste às oscilações, tanto domésticas quanto internacionais”, recomenda.