Bitcoin em perigo?

Computação Quântica ameaça o Bitcoin?

Avanço da computação quântica pode comprometer a segurança do Bitcoin, expondo bilhões a ataques. Comunidade debate soluções para proteger a rede.

Computação Quântica ameaça o Bitcoin?

O rápido avanço da computação quântica emerge como uma das maiores ameaças já enfrentadas pelo Bitcoin e pelo mercado de criptomoedas, conforme alertado pelo The Wall Street Journal (WSJ) em recente artigo. Especialistas apontam que essa tecnologia, ao quebrar a criptografia que sustenta a segurança da rede Bitcoin, pode expor bilhões de dólares a ataques cibernéticos.

A computação quântica opera de forma radicalmente diferente dos computadores tradicionais, utilizando “qubits” que podem representar múltiplos estados simultaneamente. Essa capacidade permite que computadores quânticos resolvam problemas complexos em tempos reduzidos, incluindo a quebra de chaves criptográficas.

A segurança do Bitcoin depende da criptografia de chave pública, que se baseia na dificuldade de fatorar grandes números primos. Computadores quânticos suficientemente poderosos poderiam superar essa dificuldade, tornando a rede vulnerável. Arthur Herman, pesquisador do Instituto Hudson, descreve essa ameaça como uma “bomba-relógio”, alertando que a capacidade de atacar redes como a do Bitcoin é apenas uma questão de tempo.

Embora se estime que computadores quânticos plenamente funcionais estejam a uma década de distância, o risco é considerado crescente. Um estudo do Instituto Hudson de 2022 projeta perdas de trilhões de dólares e crises financeiras profundas caso a segurança do Bitcoin seja comprometida. Com a valorização da criptomoeda, atualmente cotada perto dos US$ 100 mil, os danos potenciais aumentam ainda mais.

Vulnerabilidades e Desafios

Endereços antigos, como os que contêm os bitcoins atribuídos a Satoshi Nakamoto, seriam os mais vulneráveis, com um montante estimado de 1,1 milhão de bitcoins (equivalente a mais de US$ 160 bilhões) em risco.

Além disso, o tempo de confirmação de transações na rede Bitcoin, que pode levar até 10 minutos, cria um intervalo durante o qual hackers quânticos poderiam interceptar moedas em trânsito. Skip Sanzeri, cofundador da startup QuSecure, aponta que o Bitcoin se tornaria um alvo preferencial devido à ausência de mecanismos de proteção centralizados, ao contrário de bancos tradicionais.

Soluções e Desafios Técnicos

Especialistas afirmam que ainda há tempo para proteger o Bitcoin. A criptografia resistente à computação quântica está em desenvolvimento e poderia ser implementada na rede. Narcélio Filho sugere o uso do operador OP_CAT, cuja reativação está em discussão. O OP_CAT permitiria concatenar dados, protegendo transações contra ataques quânticos.

No entanto, existem desafios: transações protegidas por criptografia quântica exigiriam mais dados, tornando tudo mais caro e limitando a viabilidade devido ao tamanho restrito dos blocos. Além disso, cerca de 4 milhões de bitcoins em endereços com chaves públicas expostas estariam vulneráveis, e bloquear essas moedas seria uma solução controversa.

Quanto ao algoritmo de mineração SHA-256, mecanismos de ajuste de dificuldade podem ser utilizados, como visto na adaptação aos ASICs. Caso o SHA-256 seja quebrado, provas de trabalho adicionais resistentes a ataques quânticos poderiam ser implementadas.

Um hardfork seria o último recurso, exigindo uma atualização obrigatória para uma versão mais segura. No entanto, a substituição do SHA-256 seria complexa devido à sua presença em várias partes do sistema.

A natureza descentralizada do Bitcoin torna uma atualização desse porte mais complexa, exigindo consenso entre desenvolvedores e usuários. Além disso, todos os bitcoins existentes precisariam ser transferidos para endereços com a nova proteção.

A visão de Satoshi Nakamoto

Satoshi Nakamoto já havia previsto a ameaça quântica, mas mostrou pouca preocupação. Ele reconheceu a possibilidade de a computação quântica comprometer a criptografia do Bitcoin, mas afirmou que a tecnologia estava distante de ser uma ameaça prática em 2009. Em uma mensagem de 2010, ele afirmou que o sistema poderia ser adaptado para usar algoritmos pós-quânticos, se necessário.

A proteção contra ataques quânticos envolve a adoção de criptografia resistente à computação quântica, ou criptografia “pós-quântica”. Abordagens possíveis incluem:

  • Substituir algoritmos de criptografia atuais por alternativas resistentes a computadores quânticos.
  • Reendereçar os Bitcoins para novos endereços protegidos por algoritmos pós-quânticos.
  • Implementar atualizações no protocolo do Bitcoin para padrões de segurança quântica.

Desenvolvedores do Bitcoin estão cientes dos riscos e explorando soluções. Uma proposta em rascunho sugere um novo tipo de endereço chamado Pay to Quantum Resistant Hash (P2QRH), utilizando algoritmos de assinatura criptográfica pós-quântica.