
- Energia elétrica deve seguir pressionando a inflação com bandeira vermelha e térmicas até dezembro.
- Aumento nas contas de luz já impacta setores de serviços, ampliando o IPCA.
- Banco Central deve manter juros altos diante de cenário fiscal frágil e inflação resistente.
A energia elétrica se tornou um dos principais focos de preocupação para a inflação brasileira no segundo semestre de 2025. De acordo com Andrea Ângelo, estrategista da Warren Investimentos, o acionamento de termelétricas, somado à previsão de bandeiras tarifárias mais caras, tende a impactar diretamente o bolso do consumidor e o comportamento do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) nos próximos meses.
Nesse sentido, ainda que a gasolina tenha registrado uma leve queda recentemente, o alívio não será suficiente. A tendência, portanto, é de que os preços da energia ofusquem qualquer ganho pontual em outros itens. Isso coloca a conta de luz como um novo vilão da inflação.
Estiagem amplia uso de térmicas e eleva bandeiras
Com o início do período seco, os níveis dos reservatórios estão abaixo do ideal, o que já obrigou a Aneel a acionar a bandeira vermelha patamar 1 em junho. Segundo a Warren, essa situação deve se agravar em julho, quando é esperado o avanço para o patamar 2 — ainda mais custoso. A previsão, nesse cenário, é de manutenção desse nível até agosto, com apenas uma leve melhora entre setembro e outubro.
“Estamos diante de um quadro pouco favorável. A geração de energia por térmicas é mais cara, e esse custo é inevitavelmente repassado ao consumidor final”, afirma Andrea. Por isso, o peso da energia nas despesas familiares tende a aumentar nos meses mais críticos do ano.
Além disso, a probabilidade de chuvas abaixo da média dificulta qualquer reversão antecipada. Dessa forma, o consumidor deve se preparar para um impacto prolongado e progressivo na conta de luz até o fim do ano.
Alta nas tarifas deve afetar também o setor de serviços
O efeito da energia elétrica sobre o IPCA não se restringe ao consumo residencial. De fato, o aumento nos custos de produção afeta bares, restaurantes, hotéis e outros serviços que dependem intensamente de eletricidade. Assim, os impactos indiretos podem ser tão relevantes quanto os diretos.
“Esse repasse já começou a ser sentido. Quando a energia sobe, todo o ecossistema de consumo é afetado, sobretudo os serviços, que continuam sendo o principal vetor da inflação”, explica a estrategista da Warren. Como resultado, a inflação dos serviços pode ganhar novo fôlego, mesmo com a desaceleração de itens como combustíveis.
A recente queda nos preços da gasolina, anunciada pela Petrobras, deve amenizar temporariamente o índice de junho. No entanto, Andrea alerta que o mercado sentirá esse efeito de forma limitada. “A energia pesa mais e por mais tempo. Mesmo com gasolina mais barata, o impacto positivo no IPCA será menor do que o efeito negativo da eletricidade”, complementa.
Política monetária seguirá pressionada
Neste contexto, o Banco Central encontra menos espaço para adotar estímulos. Embora o ciclo de corte da Selic esteja em pauta desde 2023, as condições atuais exigem cautela. A combinação entre pressão fiscal, inflação persistente e choques nos preços administrados, como a energia, fragiliza qualquer movimento mais ousado na política de juros.
“O ambiente externo já não é estável. Internamente, os gastos públicos seguem elevados. Com isso, o BC terá dificuldade para justificar cortes adicionais sem comprometer seu compromisso com a estabilidade dos preços”, avalia Andrea.
Por fim, o impacto da energia elétrica se transforma em um desafio fiscal, social e monetário. Com as famílias gastando mais e os serviços reajustando preços, o controle da inflação dependerá de medidas coordenadas — e de tempo.