
- Hospedagem cara em Belém ameaça participação plena de países pobres na COP30
- Ativistas acusam Brasil de hipocrisia ao liberar petróleo enquanto promove conferência climática
- Medidas improvisadas, como cruzeiros e escolas adaptadas, ainda não garantem solução definitiva
O Brasil chamou o mundo para discutir a crise climática no coração da Amazônia, mas a COP30 já enfrenta turbulências antes mesmo de começar. A dois meses do evento, diplomatas alertam que a falta de hospedagem acessível em Belém pode comprometer as negociações.
Enquanto isso, cresce a pressão internacional sobre o país. Ativistas acusam Lula de contradição por liberar exploração de petróleo, os Estados Unidos avaliam não participar, e países pobres relatam dificuldades para garantir presença no encontro.
Hospedagem cara vira crise diplomática
Dois terços das delegações ainda não reservaram quartos. Em alguns casos, hotéis simples chegam a cobrar US$ 600 por noite. A ONU oferece subsídios limitados, mas eles não atendem à maioria dos representantes.
Diplomatas africanos rejeitaram a sugestão de dividir quartos, vista como desrespeitosa. Já a representante de Palau, Ilana Seid, afirmou que o problema ameaça a própria participação de países mais vulneráveis. “Não conseguimos discutir nossa sobrevivência se não conseguimos nem chegar lá”, disse.
O negociador brasileiro André Corrêa do Lago negou falhas graves. Ele declarou que o governo garantiu 53 mil quartos, mais do que os 50 mil esperados. Também prometeu opções entre US$ 100 e US$ 200 para delegações de baixa renda.
Pressão sobre Lula e o Brasil
A disputa por hospedagem ocorre em um contexto de baixa confiança na diplomacia climática. O Acordo de Paris, firmado há dez anos, não conseguiu reduzir emissões no ritmo necessário. Os EUA, maior poluidor histórico, aumentaram sua produção de petróleo e sinalizaram ausência.
Ativistas internacionais acusam o Brasil de hipocrisia. O país, apesar de reduzir o desmatamento, ampliou a exploração de petróleo. Para críticos, a contradição enfraquece o discurso de liderança climática que o governo busca sustentar.
Com isso, Belém se torna símbolo de uma promessa difícil de cumprir: receber o mundo para negociar o futuro climático enquanto enfrenta problemas básicos de infraestrutura e credibilidade.
Medidas improvisadas e incerteza
O governo anunciou medidas emergenciais. Entre elas, a adaptação de escolas, o uso de dois navios de cruzeiro e a regulação de imóveis privados para receber delegações. Além disso, pediu apoio de bancos e entidades filantrópicas para custear hospedagens.
Apesar disso, diplomatas afirmam que continuam sem garantias reais. Muitos negociadores, em vez de preparar propostas para as mesas de discussão, gastam tempo buscando quartos e alternativas com corretores locais.
Para Corrêa do Lago, o contexto global amplia as dificuldades. “As circunstâncias não são ideais. O cenário geopolítico é muito difícil”, disse o embaixador. Ainda assim, ele pede criatividade e paciência para superar os desafios.