
O que era para ser a grande vitrine ambiental do governo Lula corre o risco de se tornar um vexame global. A menos de 100 dias para a COP30, em Belém, problemas de hospedagem, infraestrutura e críticas sobre impactos ambientais ameaçam o sucesso do maior encontro climático do planeta.
Organizado para mostrar ao mundo a importância da Amazônia, o evento enfrenta um cenário que mistura hotéis lotados, preços nas alturas, polêmica sobre obras em áreas protegidas e até reuniões de emergência da ONU para tentar salvar o planejamento.
Hospedagem cara e escassa
Delegações de diversos países denunciam preços exorbitantes na rede hoteleira e no aluguel por temporada. Em alguns casos, valores chegam a ultrapassar o de suítes de luxo no Copacabana Palace, no Rio. Há registros de pacotes que chegam a R$ 1,4 milhão apenas para o período do evento, contra cerca de R$ 96 mil por diárias em hotéis cinco estrelas na capital fluminense.
O governo afirma ter mapeado 53 mil leitos entre hotéis, cruzeiros, imóveis no Airbnb e pousadas, mas ainda assim o número é considerado insuficiente. A escassez já gera desistências de participantes e leva delegações a buscarem alternativas fora de Belém.
ONU intervém diante da crise
A Secretaria da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) convocou reuniões emergenciais para lidar com as reclamações. Como resposta, o Brasil anunciou medidas como a contratação de navios de cruzeiro para servir de hospedagem flutuante e tarifas especiais para países em desenvolvimento.
Mesmo assim, as diárias continuam muito acima do valor de ajuda oferecida pela ONU, de US$ 149 por pessoa, o que mantém a tensão e aumenta a pressão internacional sobre o governo.
Setor privado recua e cria eventos paralelos
Instituições financeiras, empresas e consultorias, que tradicionalmente marcam presença em peso nas COPs, já começam a rever a participação. Muitos optam por se concentrar em encontros paralelos em São Paulo e no Rio de Janeiro, fugindo dos custos e da complexa logística de Belém.
Esse movimento ameaça reduzir a representatividade empresarial e enfraquecer o papel da COP30 como polo global de negociações ambientais.
Obras polêmicas na floresta
A tentativa de modernizar a infraestrutura da cidade também levanta polêmicas. A construção da Avenida Liberdade, estrada de quatro pistas com cerca de 13 km, corta áreas protegidas da Amazônia e é vista por ambientalistas como uma contradição para um evento que pretende preservar a floresta.
O governo do Pará afirma que a obra já estava prevista antes da escolha de Belém como sede, mas críticos apontam que o avanço das máquinas em áreas sensíveis passa uma mensagem oposta ao espírito da conferência.
Principais pontos
- Hospedagem insuficiente e preços abusivos colocam em risco a participação internacional
- ONU intervém com reunião emergencial para tentar conter crise logística
- Obras polêmicas em áreas protegidas levantam críticas sobre contradições do evento