
- Banco Central aponta tarifaço dos EUA como fator que agrava incertezas e pressiona inflação
- Selic deve continuar em 15% por período prolongado, segundo ata do Copom
- Analistas adiam previsão de corte de juros para dezembro ou 2026
A ata divulgada nesta terça-feira (5) pelo Comitê de Política Monetária (Copom) deixou claro que o cenário para cortes nos juros ficou ainda mais distante. O Banco Central apontou que o tarifaço imposto pelos Estados Unidos às exportações brasileiras elevou significativamente o nível de incerteza econômica e dificultou a convergência da inflação à meta.
Na semana passada, o Copom manteve a taxa Selic em 15% ao ano, o maior patamar desde 2006, e sinalizou que deverá repetir a decisão em setembro. Com isso, a expectativa de início de corte em 2025 ficou cada vez mais improvável diante das novas pressões externas e fiscais.
Tarifaço trava decisão e reforça cautela
Segundo o BC, o novo pacote de tarifas dos EUA sobre produtos brasileiros agravou o cenário externo e exigirá ainda mais cautela na condução da política monetária. Para o Copom, os impactos setoriais são relevantes, ainda que os efeitos agregados sobre a economia estejam incertos.
A sobretaxa de 50% começa a valer nesta quarta-feira para setores como café, carnes e pescados. Embora alguns segmentos tenham sido poupados, como petróleo, aviões e suco de laranja, o Copom avaliou que o impacto sobre a percepção de risco do país é expressivo e afeta a confiança do mercado.
Nesse contexto, a autoridade monetária justificou a manutenção da Selic em um “patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado”. O objetivo é conter expectativas de inflação que seguem desancoradas, mesmo com sinais recentes de desaceleração da atividade.
Inflação resiste e atividade enfraquece
A ata também revela que, apesar das “surpresas baixistas” no IPCA recente, a inflação permanece acima da meta. Os núcleos inflacionários seguem pressionados, sobretudo nos serviços, o que indica demanda aquecida em alguns setores e reforça a necessidade de juros elevados por mais tempo.
Por outro lado, o Copom reconheceu que há sinais de enfraquecimento da economia. O mercado de crédito, por exemplo, apresenta concessões menores, juros mais altos e inadimplência crescente. Já o consumo continua sustentado por um mercado de trabalho aquecido, com desemprego em baixa e renda em alta.
Mesmo assim, o BC avaliou que o ritmo atual da política monetária está coerente com a trajetória esperada de desinflação. A instituição reiterou que continuará vigilante e poderá voltar a subir os juros, caso as expectativas se deteriorem.
Fiscal, câmbio e expectativas completam o risco
Outro ponto de atenção citado na ata é a política fiscal do governo. O Copom alertou que, além de estimular a demanda no curto prazo, a deterioração das contas públicas pode elevar os prêmios de risco da dívida, pressionando a curva de juros futura e atrapalhando o controle da inflação.
O BC também destacou a volatilidade recente no câmbio, com o dólar subindo para R$ 5,52, o que aumenta o risco de repasses inflacionários. A instituição reforçou que, em um ambiente de expectativas desancoradas, será necessário manter uma política monetária mais dura do que o normal por mais tempo.
No mercado, a leitura foi de que a autoridade monetária segue firme no combate à inflação. Analistas como Caio Megale, da XP, e Andrea Damico, da Buysidebrazil, destacaram o tom duro da ata, apesar do reconhecimento de enfraquecimento da atividade. Já Leonardo Costa, do ASA, viu espaço para algum alívio a partir de dezembro.