
- O Corinthians reteve R$ 100 milhões que deveria enviar ao fundo da Neo Química Arena.
- O valor se tornou dívida com a Caixa, que já ultrapassa R$ 645 milhões.
- O clube e a Caixa estudam criar um novo fundo aberto a torcedores, mas especialistas consideram o modelo arriscado.
O Corinthians enfrenta um novo escândalo financeiro. O clube não repassou cerca de R$ 100 milhões ao fundo responsável por quitar a construção da Neo Química Arena, e o valor acabou se transformando em dívida com a Caixa Econômica Federal (CEF).
Os recursos, que vinham da bilheteria e dos naming rights pagos pela Hypera Pharma, deveriam ir para o Arena FII, fundo criado para pagar o financiamento do estádio. Em vez disso, o Corinthians usou o valor para cobrir despesas do clube.
Origem do rombo
O projeto do estádio começou em 2011 e custou R$ 985 milhões, sendo R$ 400 milhões financiados pela Caixa. O plano previa que toda a receita gerada pela arena seria repassada ao fundo para amortizar a dívida.
Mas, desde 2023, o Arena FII deixou de receber os valores de bilheteria e o contrato de naming rights. Auditoria da YPC Auditum mostrou que nenhum repasse de R$ 15 milhões anuais da Hypera foi feito. Além disso, o fundo acumulou perdas de R$ 424 milhões em valor de mercado desde 2014.
O Corinthians admitiu que usou o dinheiro para pagar despesas internas e alegou que o acordo com a Caixa, fechado em 2022, dispensa o repasse direto ao fundo, embora o clube ainda precise transferir os valores ao banco. A Caixa, por sua vez, preferiu não comentar o caso.
Negociação e alternativas
Com a dívida agora em R$ 645 milhões, o clube tenta reestruturar o modelo de pagamento. O presidente do Conselho Deliberativo, Romeu Tuma Júnior, afirmou que o Corinthians não tem recursos para quitar o débito e sugeriu criar um novo fundo para captar dinheiro com torcedores.
A proposta recebeu aval do presidente da Caixa, Carlos Antônio Vieira Fernandes, que vê na ideia uma forma de transformar a arena em ativo de mercado. O plano prevê venda de cotas a pessoas físicas, permitindo que torcedores se tornem pequenos investidores do estádio.
Em nota, o Corinthians defendeu que o projeto pode ser uma boa alternativa de captação, desde que haja transparência. O clube também prometeu corrigir o balanço de 2024 e divulgar detalhes sobre a situação do fundo Arena FII.
Investimento com risco alto
Especialistas alertam que o novo fundo pode ser mais emocional do que lucrativo. Para Alfredo Sequeira Filho, presidente da DNAinvest, o produto teria grande apelo entre torcedores, mas baixo retorno financeiro.
Segundo ele, “um fundo que depende de um único imóvel e de um inquilino que não paga é arriscado”. Nesse cenário, os dividendos seriam mínimos, já que a dívida com a Caixa consumiria boa parte das receitas do estádio.
A administradora atual do fundo, Reag Trust, negou qualquer irregularidade, mas segue no radar da Operação Carbono Oculto, que investiga fundos usados para lavagem de dinheiro. Apesar da defesa, o histórico contábil da arena ainda levanta dúvidas sobre a credibilidade do investimento.