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Coronavírus e Home Office: minha internet de casa pode parar?

Com empresas decretando “home office” para seus funcionários, escolas suspendendo aulas e restrições à circulação de pessoas nas ruas, o consumo residencial de internet tende a aumentar significativamente.

Foto/Reprodução GDI
Foto/Reprodução GDI

Com empresas decretando “home office” para seus funcionários, escolas suspendendo aulas e restrições à circulação de pessoas nas ruas, o consumo residencial de internet tende a aumentar significativamente.

Por exemplo, usuários nas redes sociais estão relatando quais séries maratonaram (ou pretende maratonar). Todavia, fica a dúvida: será que esse alto volume de indivíduos assistindo plataformas de streaming ao mesmo tempo, aliado às conferências por vídeo de funcionários, pode “parar a internet”?

Aparentemente, esse alto consumo já está detectado, é o que mostra o relatório da Akamai, empresa especializada em analisar o fluxo de dados na internet. Nos países incialmente atingidos pela pandemia do COVID-19 (China, Coreia do Sul, Japão e Itália), houve um aumento de 25% – em média – no consumo de internet.

Internet Dentro da Internet

Antes de mais nada, você precisa entender um pequeno conceito: a Internet é o agrupamento de várias redes que se interconectam direta ou indiretamente para trocar dados digitais. Assim, a internet que chega na sua casa (ou no seu celular) não vem – diretamente – dos famosos cabos submarinos que distribuem internet para todo o mundo (chamados backbones). Na realidade, na grande maioria das vezes, a sua casa é ligada ao seu provedor e este último é ligado aos Pontos de Troca de Tráfego (PPTs).

Os PTTs são grandes “hubs” regionais que conectam os usuários daquela região de maneira a facilitar a troca de dados entre os usuários de uma região específica ou entre um usuário da região de São Paulo com um outro usuário da região o Rio de Janeiro, por exemplo.

De acordo com o NIC.BR, existem 34 localidades no Brasil que possuem esses “hubs” – chamados PTTs. Veja a lista completa deles aqui.

Sabendo que existem esses Pontos de Troca de Tráfego, grandes empresas como Netflix, Google, Amazon (AWS), Embratel, Telefônica, Microsoft, Yahoo e até empresas de jogos como a RiotGames, contratam um “espaço nesses hubs” para que alguns de seus serviços ou servidores fiquem armazenados (ou disponíveis) nos PTTs.

Assim, por exemplo, quando você assiste um episódio de “La casa de papel”, o arquivo de vídeos – provavelmente – não estará no “servidor central” do Netflix, mas sim em alguma CDN (Rede de fornecimento de conteúdo, explicada abaixo) no Brasil.

Do mesmo modo, quando você inicia uma videoconferência no Skype ou no Google Meet, os seus dados da conferência não irão para fora do Brasil e retornarão. Igualmente, os vídeos mais acessados do Youtube não estão fora do país, mas sim “espalhados pelos PTTs”.

Rede de fornecimento de conteúdo – CDN

Sabedores de que seus conteúdos podem – literalmente – quebrar a internet, grandes empresas de conteúdo como Facebook, Google (YouTube) e Netflix, possuem redes de distribuição de conteúdos locais. Assim, os usuários desse serviço, além de terem um acesso mais rápido aos vídeos e fotos, não ficam congestionando os cabos submarinos (backbones) com “pequenas” requisições.

Aliás, o Netflix, sabedor que seu conteúdo é extremamente pesado para o tráfego na internet, criou o Open Connect. De acordo com a empresa:

“O objetivo do programa Netflix Open Connect é oferecer aos milhões de assinantes da Netflix uma experiência de transmissão com a mais alta qualidade possível. Alcançamos esse objetivo mediante parcerias com provedores de Internet para entregar o conteúdo de forma mais eficiente. Formamos parcerias com centenas de provedores de Internet para trazer volumes consideráveis de tráfego para instâncias locais com servidores Open Connect integrados à rede. Além disso, temos uma política de peering aberto nos nossos pontos de interconexão. Se você é um provedor de Internet com volume substancial de tráfego da Netflix, consulte as informações abaixo para saber mais sobre o programa.”

Logo, ao invés de entupir um cabo submarino com vários dados de vídeos, e assim “para a internet”, o Netflix criou “pequenas redes” de distribuição de conteúdo que estão espalhadas pelo mundo (existem mais de mil “caixas” no globo). Aliás, às vezes, essas “caixas” de conteúdo não estão nos PTTs, mas sim dentro dos provedores de internet.

A realidade

Mesmo existindo os PTTs e CDNs (inclusive, o projeto de PTT brasileiro é o terceiro maior do mundo), algumas redes poderão apresentar lentidões. Isto porque, a infraestrutura dos escritórios (ou seja, a conexão) possui uma maior capacidade de tráfego até os data centers. Já as conexões residências, conhecidas por serem mais antigas (lembre-se que a maioria das casas usam conexões de cobre, mais antigas se comparadas com a fibra optica), possuem uma capacidade de tráfego inferior.

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Aliás, a ANATEL, através de seu Grupo de Gestão de Riscos e Acompanhamento do Desempenho das Redes de Telecomunicações (GGRR), já está monitorando grandes operadoras, como Claro, Vivo, TIM e Oi. Com a análise do GGRR, o governo e as operadoras poderão tomar decisões como, por exemplo, o desvio de tráfego para a rede de outras empresas.

Por fim, a autarquia já pediu para as operadoras reforçarem a velocidade de seus consumidores e solicitou que as operadoras deixem de cobrar para o acesso a ferramentas de informação do Ministério da Saúde.