
- Correios buscam empréstimo de R$ 20 bilhões com aval da União para cobrir dívidas e evitar colapso financeiro.
- Receita caiu 11,3% desde 2021, enquanto custos e gastos com pessoal explodiram, agravando o déficit.
- Especialistas alertam que o crédito é impagável e pode apenas adiar a necessidade de socorro do Tesouro.
A crise nos Correios atingiu um novo patamar e ameaça a sobrevivência da estatal. Com queda contínua nas receitas, aumento de custos e perda de eficiência, a empresa agora busca um empréstimo de R$ 20 bilhões com garantia da União para fechar as contas. Sob nova direção, com o ex-executivo do Banco do Brasil Emmanoel Rondon no comando, a estatal tenta reorganizar o caixa e ganhar tempo diante do risco de insolvência.
Mesmo assim, analistas consideram que o empréstimo apenas adiará um socorro do Tesouro Nacional. A situação, avaliam, é resultado de um modelo de gestão insustentável e de custos que cresceram bem acima da receita.
Dívidas crescentes e receita em queda
Os números do balanço revelam o tamanho do problema. Desde 2021, último ano em que deu lucro, a receita líquida dos Correios caiu 11,3%, enquanto as despesas aumentaram 16,5% entre 2023 e 2024. Nesse período, os custos de pessoal subiram 43,1%, e os gastos com precatórios mais que dobraram, passando de R$ 485 milhões para R$ 1,13 bilhão.
Segundo o analista financeiro Daniel Pecanka, a empresa perdeu eficiência e se distanciou de qualquer equilíbrio operacional. “Uma companhia com queda de receita precisa cortar custos, mas os Correios foram na direção contrária”, destacou.
Além disso, a ‘taxação das blusinhas’, cobrança de imposto sobre encomendas internacionais abaixo de US$ 50, reduziu a participação da estatal no segmento de importações, derrubando a receita em 12% no primeiro semestre de 2025. Ao mesmo tempo, as despesas operacionais subiram mais de 50%, aprofundando o rombo.
Empréstimo bilionário e risco fiscal
Para tentar fechar as contas, a estatal já resgatou todas as aplicações financeiras e recorreu a empréstimos bancários de curto prazo, que somam quase R$ 2,4 bilhões desde o fim de 2024. Agora, o plano é contratar um crédito de R$ 20 bilhões com aval da União.
Segundo fontes técnicas, a operação precisa ser aprovada até a primeira quinzena de novembro, para evitar calotes em compromissos imediatos. O problema é que, sem parecer favorável sobre a solvência da empresa, o Tesouro pode resistir em conceder a garantia.
Em nota, os Correios afirmaram que o plano de reestruturação busca equilíbrio até 2027, com foco em cortar despesas e modernizar a operação. Ainda assim, especialistas consideram o cenário inviável. “A estatal não gera caixa suficiente para pagar o empréstimo, e o plano não mostra como isso vai mudar”, diz a economista Elena Landau, crítica da proposta.
Privatização fora do radar, mas inevitável no longo prazo
O governo Lula retirou os Correios do Plano de Desestatização em 2023, revertendo o estudo do BNDES que recomendava a venda integral. Para o economista Marcos Mendes, do Insper, a solução mais racional seria ajustar as contas e vender a estatal a preço baixo, permitindo que o novo controlador fizesse as correções necessárias.
Enquanto isso, o novo PDV (Programa de Demissão Voluntária) deve aliviar R$ 700 milhões no caixa em 2026, mas representa pouco diante de um déficit bilionário. A empresa, que ainda conta com mais de 80 mil funcionários, enfrenta concorrência acirrada no setor de entregas e mantém um serviço postal deficitário.
“A verdade é que o empréstimo é impagável e serve apenas para empurrar o problema”, avalia Landau. Para Mendes, não agir significa esconder a crise: “O governo tenta evitar impacto nos indicadores fiscais, mas a realidade já é essa.”