O impacto financeiro sobre os Correios ganhou novos contornos em 2024, com a estatal acumulando R$ 2 bilhões em prejuízo entre janeiro e setembro. O número representa um aumento de 142% em relação ao déficit de R$ 824 milhões registrado no mesmo período do ano passado.
A análise do terceiro trimestre (julho a setembro) revelou um resultado ainda mais alarmante: o prejuízo no período chegou a R$ 785 milhões, contrastando com os R$ 89 milhões negativos do mesmo intervalo de 2023.
O faturamento total das operações cross border — entregas internacionais — no terceiro trimestre foi de R$ 1 bilhão, uma redução de R$ 300 milhões na comparação com os R$ 1,3 bilhão registrados no ano anterior.
De janeiro a setembro de 2024, o faturamento com postagens internacionais somou R$ 3,1 bilhões, ante R$ 3,3 bilhões no mesmo intervalo de 2023. Embora a redução percentual pareça modesta (6%), especialistas avaliam que a queda reflete mudanças no comportamento de consumo e nas práticas de comércio exterior.
“Taxa das blusinhas”: o divisor de águas
A Lei 14.902/2024, apelidada de “taxa das blusinhas”, entrou em vigor em 1º de agosto e instituiu uma alíquota de 20% de Imposto de Importação para todas as compras internacionais abaixo de US$ 50. Antes da nova regra, transações abaixo desse valor eram isentas do imposto, graças ao programa Remessa Conforme, sendo taxadas apenas pelo ICMS, com alíquota de 17%.
A mudança gerou críticas de consumidores e também de plataformas de comércio eletrônico internacionais, que dependem da isenção para manter preços competitivos no Brasil.
Dados dos Correios indicam que o menor volume de importações impactou diretamente os resultados da estatal. O terceiro trimestre foi o mais afetado, coincidindo com a aplicação da nova tributação.
“É visível a relação entre a introdução da taxa e a queda no faturamento. Muitos consumidores desistem da compra ao perceberem o impacto da tributação sobre o preço final dos produtos”.
Disse Carvalho.
Impactos para os consumidores e o mercado
Desde a aplicação da Lei 14.902/2024, plataformas internacionais como Shein, AliExpress e Shopee relataram redução significativa nos pedidos enviados ao Brasil. Essas empresas, que antes ofereciam produtos acessíveis, agora enfrentam o desafio de manter a atratividade diante de preços mais altos devido à tributação.
Além do impacto financeiro, a estatal enfrenta o desafio de reestruturar sua estratégia em meio a um cenário de retração econômica no setor de entregas internacionais. “Os Correios têm um papel crucial na logística nacional e internacional, mas precisam diversificar receitas e se adaptar às mudanças no mercado global”, pontua a analista de mercado Camila Tavares.