
- A queda nas importações, e não a demanda interna, impulsionou o crescimento acima do esperado.
- Apesar do número positivo, o consumo das famílias e o investimento privado seguiram tímidos.
- Banco central dos EUA resiste à pressão de Trump e mantém taxa entre 4,25% e 4,50% ao ano.
A economia dos Estados Unidos cresceu mais do que o esperado no segundo trimestre de 2025, com o Produto Interno Bruto (PIB) avançando a uma taxa anualizada de 3%. A recuperação veio após uma retração de 0,5% nos primeiros três meses do ano — a primeira desde 2022.
Apesar do número positivo, economistas alertam que o resultado foi inflado por fatores pontuais, especialmente ligados ao comércio exterior. A forte redução nas importações foi determinante para o salto no PIB, enquanto o consumo interno mostrou desempenho modesto.
Comércio distorce o crescimento do PIB
O principal fator por trás da alta de 3% no PIB foi o recuo nas importações, que aumentaram artificialmente o saldo comercial. Como as compras externas caíram, o impacto líquido do comércio sobre o crescimento acabou sendo positivo.
No primeiro trimestre, o movimento foi oposto: empresas importaram antecipadamente para evitar novas tarifas, o que gerou déficit recorde e pressionou negativamente o PIB. Agora, com o alívio na balança comercial, o efeito estatístico se inverteu.
Economistas destacam que o comércio internacional é um dos componentes mais voláteis do PIB. Por isso, para avaliar a saúde real da economia, muitos preferem observar as vendas finais para compradores domésticos privados.
Essa métrica, que exclui estoques, exportações e gastos do governo, teve crescimento mais modesto. Isso sugere que o ritmo de expansão nos EUA pode não ser tão forte quanto o número principal indica.
Consumo avança, mas abaixo do ideal
Os gastos dos consumidores cresceram de forma moderada, apesar de ainda sustentarem a maior parte da economia. A alta nas vendas de bens duráveis foi discreta, enquanto os serviços também mostraram desempenho estável.
O crescimento do consumo foi prejudicado por fatores como inflação persistente, juros elevados e incertezas provocadas pela guerra tarifária. Além disso, os efeitos dos estímulos fiscais adotados anteriormente perderam força nos últimos meses.
Mesmo com a taxa de desemprego em níveis historicamente baixos, as famílias demonstraram cautela. Muitos preferiram poupar em vez de gastar, o que reduziu o impacto positivo do consumo no PIB do segundo trimestre.
Outro ponto de atenção está nos investimentos das empresas, que seguiram hesitantes. A instabilidade comercial e o alto custo do crédito limitaram os projetos de expansão e inovação no setor privado.
Tarifas continuam afetando previsibilidade
A política comercial do presidente Donald Trump, baseada em tarifas abrangentes sobre importações, tornou mais difícil analisar com precisão o desempenho econômico. Segundo especialistas, cerca de 60% das importações dos EUA seguem sem proteção por acordos comerciais.
Embora a Casa Branca tenha anunciado avanços em negociações com países como Japão, Coreia do Sul e Reino Unido, a taxa efetiva de tarifas segue sendo a mais elevada desde a década de 1930. Isso gera distorções nos indicadores, que oscilam conforme o impacto cambial e logístico das tarifas.
Essa imprevisibilidade afeta tanto empresas quanto consumidores, pois aumenta o custo dos produtos e pressiona margens de lucro. O resultado disso é uma economia que aparenta força em determinados trimestres, mas esconde fragilidades estruturais.
Para o segundo semestre, analistas esperam um crescimento mais fraco. A redução do impulso comercial, somada à desaceleração do consumo, pode levar o PIB a um ritmo abaixo dos 2% nos próximos trimestres.
Fed resiste à pressão e mantém juros
Em meio a esse cenário, o Federal Reserve decidiu manter a taxa básica de juros na faixa entre 4,25% e 4,50%. A decisão foi tomada mesmo diante de pressões públicas de Donald Trump por cortes que estimulem o crédito.
O banco central avalia que a inflação ainda está acima da meta de 2% ao ano. Portanto, uma flexibilização monetária precoce poderia reacender a pressão sobre os preços, o que comprometeria a estabilidade.
Com os juros elevados, os custos de financiamento continuam altos para famílias e empresas. Mesmo assim, o Fed reforçou que só reduzirá os juros quando houver sinais consistentes de desaceleração da inflação.
A expectativa agora gira em torno das próximas decisões do comitê, que acompanhará os próximos dados do mercado de trabalho e consumo antes de definir uma nova postura monetária.