Nada de recessão

Crescimento de 3%? A verdade por trás do salto econômico dos EUA

Comércio exterior inflou resultado do segundo trimestre, enquanto consumo doméstico mostra sinais de fraqueza sob tarifas de Trump.

placa em frente a bolsa de valores de nova york sinaliza wall street
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  • A queda nas importações, e não a demanda interna, impulsionou o crescimento acima do esperado.
  • Apesar do número positivo, o consumo das famílias e o investimento privado seguiram tímidos.
  • Banco central dos EUA resiste à pressão de Trump e mantém taxa entre 4,25% e 4,50% ao ano.

A economia dos Estados Unidos cresceu mais do que o esperado no segundo trimestre de 2025, com o Produto Interno Bruto (PIB) avançando a uma taxa anualizada de 3%. A recuperação veio após uma retração de 0,5% nos primeiros três meses do ano — a primeira desde 2022.

Apesar do número positivo, economistas alertam que o resultado foi inflado por fatores pontuais, especialmente ligados ao comércio exterior. A forte redução nas importações foi determinante para o salto no PIB, enquanto o consumo interno mostrou desempenho modesto.

Comércio distorce o crescimento do PIB

O principal fator por trás da alta de 3% no PIB foi o recuo nas importações, que aumentaram artificialmente o saldo comercial. Como as compras externas caíram, o impacto líquido do comércio sobre o crescimento acabou sendo positivo.

No primeiro trimestre, o movimento foi oposto: empresas importaram antecipadamente para evitar novas tarifas, o que gerou déficit recorde e pressionou negativamente o PIB. Agora, com o alívio na balança comercial, o efeito estatístico se inverteu.

Economistas destacam que o comércio internacional é um dos componentes mais voláteis do PIB. Por isso, para avaliar a saúde real da economia, muitos preferem observar as vendas finais para compradores domésticos privados.

Essa métrica, que exclui estoques, exportações e gastos do governo, teve crescimento mais modesto. Isso sugere que o ritmo de expansão nos EUA pode não ser tão forte quanto o número principal indica.

Consumo avança, mas abaixo do ideal

Os gastos dos consumidores cresceram de forma moderada, apesar de ainda sustentarem a maior parte da economia. A alta nas vendas de bens duráveis foi discreta, enquanto os serviços também mostraram desempenho estável.

O crescimento do consumo foi prejudicado por fatores como inflação persistente, juros elevados e incertezas provocadas pela guerra tarifária. Além disso, os efeitos dos estímulos fiscais adotados anteriormente perderam força nos últimos meses.

Mesmo com a taxa de desemprego em níveis historicamente baixos, as famílias demonstraram cautela. Muitos preferiram poupar em vez de gastar, o que reduziu o impacto positivo do consumo no PIB do segundo trimestre.

Outro ponto de atenção está nos investimentos das empresas, que seguiram hesitantes. A instabilidade comercial e o alto custo do crédito limitaram os projetos de expansão e inovação no setor privado.

Tarifas continuam afetando previsibilidade

A política comercial do presidente Donald Trump, baseada em tarifas abrangentes sobre importações, tornou mais difícil analisar com precisão o desempenho econômico. Segundo especialistas, cerca de 60% das importações dos EUA seguem sem proteção por acordos comerciais.

Embora a Casa Branca tenha anunciado avanços em negociações com países como Japão, Coreia do Sul e Reino Unido, a taxa efetiva de tarifas segue sendo a mais elevada desde a década de 1930. Isso gera distorções nos indicadores, que oscilam conforme o impacto cambial e logístico das tarifas.

Essa imprevisibilidade afeta tanto empresas quanto consumidores, pois aumenta o custo dos produtos e pressiona margens de lucro. O resultado disso é uma economia que aparenta força em determinados trimestres, mas esconde fragilidades estruturais.

Para o segundo semestre, analistas esperam um crescimento mais fraco. A redução do impulso comercial, somada à desaceleração do consumo, pode levar o PIB a um ritmo abaixo dos 2% nos próximos trimestres.

Fed resiste à pressão e mantém juros

Em meio a esse cenário, o Federal Reserve decidiu manter a taxa básica de juros na faixa entre 4,25% e 4,50%. A decisão foi tomada mesmo diante de pressões públicas de Donald Trump por cortes que estimulem o crédito.

O banco central avalia que a inflação ainda está acima da meta de 2% ao ano. Portanto, uma flexibilização monetária precoce poderia reacender a pressão sobre os preços, o que comprometeria a estabilidade.

Com os juros elevados, os custos de financiamento continuam altos para famílias e empresas. Mesmo assim, o Fed reforçou que só reduzirá os juros quando houver sinais consistentes de desaceleração da inflação.

A expectativa agora gira em torno das próximas decisões do comitê, que acompanhará os próximos dados do mercado de trabalho e consumo antes de definir uma nova postura monetária.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.