
- Itaú, BB e BTG já estão entre os fundos cripto mais acessados pelos brasileiros
- A entrada das instituições reduziu o atrito e aumentou a confiança dos investidores
- Mesmo em fundos bancários, é fundamental avaliar a gestão, riscos e objetivos do produto
O mundo dos criptoativos no Brasil virou território estratégico para os grandes bancos. Após anos dominado por gestoras especializadas como a Hashdex, o setor agora assiste à ascensão de gigantes como Itaú, Banco do Brasil e BTG Pactual. E mais: os novos entrantes já conquistaram posições entre os fundos com maior número de cotistas do país.
A mudança de cenário revela não apenas um avanço técnico, mas também simbólico. Afinal, quando instituições tradicionalmente conservadoras apostam em um ativo antes visto como arriscado, o recado ao investidor comum é claro: o universo cripto está ficando sério.
Bancos tradicionais entram pesado no mercado
Segundo levantamento da Quantum Finance, com base em dados da CVM, mais de 50 fundos ligados a criptoativos já estão disponíveis. A Hashdex segue na liderança em número de cotistas, mas o segundo lugar agora pertence ao Itaú, com 64.327 participantes. Em seguida, vem o Banco do Brasil, com 29.098, e o BTG Pactual, em sexto lugar, com 15.630 cotistas.
O Bradesco também entrou na disputa, embora ainda não esteja no topo do ranking. Seu fundo, lançado em maio, mira diretamente no público jovem, digitalizado e acostumado com inovações. Todos esses movimentos indicam que os bancões não estão apenas testando o setor — eles estão fincando bandeira nele.
Essa entrada em massa ajuda a validar a legitimidade dos ativos digitais, de acordo com Henry Oyama, diretor da Hashdex. “Quando instituições conservadoras oferecem esses produtos, reforçam a confiança do mercado”, afirma. Segundo ele, isso não representa uma ameaça, mas sim um reforço na institucionalização do setor.
Acesso mais fácil, riscos mais conhecidos
Um dos principais impactos dessa movimentação dos bancos está na redução de barreiras técnicas. Antes, investir em cripto exigia lidar com carteiras digitais, chaves privadas e plataformas externas. Agora, basta acessar o aplicativo do banco e escolher o fundo desejado.
Para Gustavo Cunha, planejador financeiro da Planejar, essa simplificação foi fundamental. “A segurança e familiaridade dos bancos tradicionais quebram a resistência inicial de muitos investidores”, afirma.
Além da facilidade operacional, os bancos também apostam em produtos regulados e com estratégias alinhadas ao perfil de risco do cliente. No caso do Itaú, a entrada no setor veio com o ETF BITI11 em 2022 e evoluiu para fundos de previdência e cotas abertas. “Queremos oferecer exposição com diversificação, dentro de um portfólio sólido”, explica Caíque Cardoso, da Itaú Asset.
Ainda é preciso atenção na hora de investir
Apesar da comodidade oferecida pelos grandes bancos, especialistas alertam: o nome da instituição não deve ser o único critério. “É essencial avaliar consistência de performance, histórico do gestor e a estratégia adotada em momentos de estresse”, ressalta Christopher Galvão, analista da Nord.
A estrutura do fundo, se é ativa ou passiva, os mecanismos de alocação e o grau de exposição também precisam ser levados em conta. Isso vale para qualquer classe de ativos, mas, em cripto, os riscos e a volatilidade podem ser ainda mais relevantes.
Outro fator é a regulação. Embora o ambiente esteja se tornando mais seguro, ainda há lacunas. As regras estão em construção, tanto no Brasil quanto lá fora. Por isso, as gestoras precisam investir pesado em compliance, custódia e tecnologia para garantir a solidez dos produtos.