Reestruturação

Crise nos Correios traz à tona debate sobre privatização

Com o caixa em queda e endividamento crescente, os Correios tentam levantar R$ 20 bilhões para evitar colapso, reacendendo o debate sobre privatização e expondo falhas no modelo estatal.

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  • Correios negociam R$ 20 bilhões para evitar colapso financeiro e quitar dívidas operacionais.
  • Juristas alertam que o modelo estatal está esgotado e defendem abertura ao setor privado.
  • Privatização volta ao debate político, mesmo com resistência dentro do governo.

A situação dos Correios chegou ao limite. A estatal anunciou um empréstimo bilionário de R$ 20 bilhões, com garantias do Tesouro Nacional, para evitar uma crise de liquidez e honrar dívidas com fornecedores. O plano de reestruturação tenta estancar o rombo e manter a operação funcionando diante da queda de receitas e do avanço da concorrência privada.

Mas o movimento reacendeu um debate que o governo tentava enterrar: a privatização da estatal. Para especialistas, o novo socorro apenas adia o inevitável e não ataca a raiz da ineficiência estrutural que há anos compromete o desempenho dos Correios.

Empréstimo bilionário e dependência do Tesouro

O presidente da estatal, Emmanoel Rondon, justificou que os recursos serão usados para reestruturar financeiramente a empresa, pagar fornecedores e sustentar o caixa operacional. Ele reconheceu que os Correios não se adaptaram ao novo cenário logístico, especialmente após a pandemia, quando o mercado passou a exigir eficiência e digitalização em ritmo acelerado.

“A empresa demorou a reagir à nova realidade, e isso se refletiu no resultado e na geração de caixa”, afirmou Rondon. O plano inclui corte de custos, revisão de contratos e fechamento de agências com baixo desempenho.

Apesar disso, o endividamento bilionário reforça a dependência da estatal em relação ao Tesouro e levanta dúvidas sobre sua capacidade de recuperação autônoma.

Modelo esgotado e retorno da pauta da privatização

O jurista Fernando Vernalha, do escritório Vernalha Pereira Advogados, vê na operação um sinal claro do esgotamento do modelo estatal. Segundo ele, os empréstimos sucessivos e planos paliativos mostram que a gestão pública não consegue competir com o setor privado.

“A ajuda financeira mitiga sintomas, mas não cura a doença. O monopólio postal é um modelo ultrapassado e ineficiente. Criado em 1978, ele não reflete a realidade tecnológica e de mercado atual”, disse Vernalha.

Para o especialista, a privatização deveria ser encarada como etapa necessária para modernizar o serviço, reduzir gastos públicos e atrair investimentos privados que permitam eficiência real.

Governo evita confronto, mas pressão aumenta

Nos bastidores, setores do governo admitem que a privatização voltará ao centro das discussões caso o empréstimo não resolva o desequilíbrio financeiro. Sendo assim, o desafio é politicamente sensível: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já se manifestou contra a venda dos Correios, retirada do programa de desestatização logo no início de seu mandato.

Ademais, o cenário atual pressiona o Planalto. Com custos operacionais em alta, queda no faturamento e reclamações sobre falhas nas entregas, cresce o coro entre economistas e investidores por uma mudança radical no modelo.

Por fim, para Vernalha, a discussão precisa ser enfrentada de forma técnica e não ideológica. “A privatização, dentro de um novo marco regulatório, pode melhorar os serviços, reduzir custos ao governo e dar transparência à operação”, completou.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.