Coincidência?

CVM aponta esquema entre Banco Master, Tanure e Borlenghi que inflou ações da Ambipar (AMBP3) em mais de 800%

Relatório da CVM conclui que a alta explosiva das ações da Ambipar (AMBP3) foi resultado de coordenação entre o controlador e investidores ligados ao Banco Master e Nelson Tanure.

Ambipar (ReproduçãoReset)
Ambipar (ReproduçãoReset)
  • CVM identificou coordenação entre Banco Master, Tanure e Borlenghi na valorização de Ambipar (AMBP3).
  • Ações subiram 863% em três meses, ampliando garantias para operações financeiras.
  • Decisão pode obrigar OPA bilionária e abrir precedente para novos casos no mercado.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) concluiu que Banco Master, Nelson Tanure e Tércio Borlenghi Júnior, controlador da Ambipar (AMBP3), montaram um esquema coordenado para inflar o preço das ações da empresa. A investigação apontou uma valorização de 863% entre junho e agosto de 2024, resultado de operações combinadas entre os três grupos.

O relatório técnico, descrito como inovador pela própria CVM, fala em “troca de favores” entre as partes. As compras de ações pela Trustee DTVM, ligada ao Master e a Tanure, teriam beneficiado Borlenghi e impulsionado artificialmente o valor de mercado da Ambipar, hoje estimado em R$ 27 bilhões.

Decisão da CVM e implicações diretas

O parecer da Superintendência de Registro de Valores Mobiliários (SRE) concluiu que os envolvidos atuaram de forma coordenada para valorizar os papéis. Os diretores João Pedro Nascimento e Marina Copola votaram a favor de determinar uma OPA obrigatória, com prazo de 30 dias para protocolo após a decisão final.

Ambos entenderam que a responsabilidade deve recair sobre Borlenghi, e não sobre a Trustee. Essa posição redefine o conceito tradicional de “pessoa vinculada”, incluindo casos de coordenação informal. Segundo Nascimento, “há provas suficientes de que houve sinergia e alinhamento entre os agentes”.

A autarquia entende que a CVM deve punir também colaborações indiretas, quando o resultado financeiro comum é evidente. A decisão, portanto, pode abrir precedente para casos semelhantes no mercado brasileiro.

Como o esquema teria funcionado

O relatório descreve compras sucessivas de ações da Ambipar por fundos ligados ao grupo Trustee/Banco Master. O objetivo seria elevar os preços e usar os papéis como garantia de operações paralelas, especialmente para a compra da Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia) por R$ 1,04 bilhão.

As ações, que valiam R$ 8,07 em maio de 2024, chegaram a R$ 159 em agosto, o que aumentou artificialmente o valor das garantias. Assim, essa alta serviu de base para emissão de debêntures do Phoenix FIP, fundo controlado por Nelson Tanure e Tércio Borlenghi, garantindo o financiamento da Emae.

Desse modo, segundo a CVM, a valorização beneficiou também o Banco Master, que dobrou seu patrimônio líquido, de R$ 2,3 bilhões para R$ 4,7 bilhões, o que ampliou sua capacidade de emissão de CDBs e captação no mercado.

Efeitos no mercado e movimentação dos papéis

Entre junho e agosto, a Trustee DTVM elevou sua fatia na Ambipar de 6,6% para 15%. No mesmo período, Borlenghi ampliou sua posição de 66,7% para 73,48%. Com a alta, a Ambipar passou a valer R$ 27 bilhões, saindo do Índice de Small Caps da B3.

Além disso, a SRE destacou que o movimento foi intencional. A Ambipar teria usado ações em tesouraria para quitar dívidas durante o pico de preços, gerando ganho de R$ 260 milhões. Essa prática, considerada irregular, reforçou o argumento de manipulação de mercado.

Portanto, em maio de 2025, restavam apenas 0,29% das ações em tesouraria. A OPA foi determinada em março, mas os recursos apresentados por Ambipar e fundos adiaram a votação final no colegiado da CVM.

Repercussão e próximos passos

A manifestação da CVM é vista como um marco regulatório. Segundo Marina Copola, a decisão amplia o conceito de “atuação conjunta” e mostra que a autarquia está disposta a enfrentar esquemas sofisticados de manipulação.

Em seu voto, Copola afirmou existir relação comercial estreita entre Borlenghi, Tanure, Trustee e Banco Master, com apoio mútuo em operações bilionárias. Ademais, para ela, “é impossível ignorar o nível de coordenação entre esses agentes”.

Por fim, a nova sessão da CVM ainda não tem data. Caso o colegiado confirme o voto técnico, Tércio Borlenghi Júnior poderá ser obrigado a lançar uma OPA bilionária, beneficiando acionistas minoritários e marcando um precedente histórico na governança corporativa brasileira.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.