Tensão no Mercado

Dólar dispara e volta a R$ 6; Ibovespa despenca

Tarifa de 104% anunciada por Trump intensifica tensão comercial e afeta ativos brasileiros ligados à China.

Crédito: Depositphotos
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  • O dólar superou os R$ 6 com o fim do prazo para que a China retirasse suas tarifas retaliatórias aos EUA.
  • O Ibovespa recuou mais de 1%, com destaque negativo para a Vale, que caiu quase 5%.
  • O agravamento da guerra comercial elevou a aversão ao risco e gerou perdas em ativos chineses e brasileiros.

A escalada na guerra comercial entre China e Estados Unidos provocou uma forte reação no mercado brasileiro. Após o fim do prazo dado por Washington para que Pequim retirasse suas tarifas retaliatórias, o dólar disparou acima de R$ 6 e o Ibovespa recuou mais de 1%. Empresas ligadas às commodities, como a Vale, lideraram as perdas, enquanto investidores globais buscaram proteção em ativos mais seguros.

Pressão externa abala o mercado brasileiro

A instabilidade global ganhou força nesta terça-feira (8) após o fim do prazo estabelecido pelos Estados Unidos para que a China retirasse suas tarifas comerciais retaliatórias. O desfecho, como antecipado por diversos analistas, trouxe preocupações ao mercado. Com a manutenção das barreiras chinesas, o governo americano elevou as tarifas adicionais em 104% sobre produtos importados do país asiático.

Como reflexo imediato, o dólar comercial rompeu a marca simbólica de R$ 6, alcançando R$ 6,0018 na máxima do dia. Ao fim da sessão, a moeda americana encerrou cotada a R$ 5,9987, com alta de 1,48%. Esse movimento refletiu a fuga de capital de mercados emergentes diante da nova onda de tensões globais.

Além disso, o fortalecimento do dólar frente a outras moedas pressionou o yuan offshore, que desvalorizou 0,75% e atingiu seu menor patamar em mais de dez anos. Investidores buscaram refúgio em títulos americanos, o que agravou o cenário para ativos de risco.

Ibovespa sofre queda puxada por commodities

Enquanto o câmbio disparava, o Ibovespa também sofreu os efeitos da tensão internacional. O principal índice da bolsa brasileira caiu 1,05%, fechando o pregão aos 124.265 pontos. O tombo foi impulsionado por empresas exportadoras, especialmente do setor de mineração, que dependem fortemente do apetite chinês por insumos.

A Vale, principal ação do índice e fortemente exposta ao mercado asiático, desvalorizou 4,98%, com seus papéis cotados a R$ 49,46. Segundo a XP Investimentos, o temor de uma desaceleração na demanda chinesa por minério de ferro motivou os investidores a reduzirem sua exposição no setor.

Além do impacto direto sobre as empresas, o receio de um menor crescimento da China adiciona pressão sobre a economia brasileira. Diante disso, muitos gestores preferiram proteger seus portfólios, saindo de posições em ações.

ADRs chineses afundam em Nova York

Ao mesmo tempo, os reflexos do impasse comercial se estenderam aos mercados internacionais. Em Nova York, os ADRs (recibos de ações) de empresas chinesas caíram de forma acentuada. A gigante de tecnologia Alibaba perdeu 6,28%, enquanto a Baidu teve queda de 3,67%.

Além das incertezas em relação às novas tarifas americanas, o fortalecimento do dólar contribuiu para o mau desempenho dos ativos asiáticos. Segundo analistas da Bloomberg, há receio de que a China também adote contramedidas, elevando ainda mais a tensão entre as duas maiores economias do mundo.

Por consequência, a liquidez global pode se retrair, afetando mercados emergentes e aprofundando a volatilidade nas próximas semanas.

Especialistas projetam cenário de maior instabilidade

Embora os mercados já tenham reagido ao noticiário, especialistas preveem novas turbulências nos próximos dias. Para o economista Étore Sanchez, da Ativa Investimentos, há risco de uma escalada tarifária que pode ampliar os danos à economia global e afetar a confiança dos investidores.

Além disso, a desaceleração do setor industrial mundial e a expectativa de retração no comércio exterior geram temores adicionais. De acordo com o BTG Pactual, o Brasil pode ser um dos países mais prejudicados, dado seu perfil exportador e a dependência da demanda asiática.

Portanto, o ambiente de aversão ao risco deve persistir, com investidores priorizando ativos defensivos, como dólar, ouro e títulos soberanos. A recomendação predominante entre os gestores é manter cautela diante do cenário global ainda incerto.

Luiz Fernando
Licenciado em Letras, apaixonado por esportes, música e cultura num geral.