Curto-prazismo político

Dólar e inflação altos é culpa de estratégia de Lula de reeleição, diz ex-BC

Promessas vazias sobre responsabilidade fiscal não escondem o crescente aumento dos gastos públicos.

Foto/Reprodução: Lula foto oficial
Foto/Reprodução: Lula foto oficial | Foto/Reprodução: Lula foto oficial
  • O presidente promete responsabilidade fiscal, mas suas palavras não são respaldadas por ações concretas
  • O governo Lula elevou as despesas públicas de forma permanente, especialmente com transferências para famílias
  • O governo prioriza o aumento de gastos para garantir apoio popular, mesmo com os riscos econômicos
  • A falta de medidas fiscais efetivas e o impacto do dólar alto e da inflação ameaçam a economia do país

Em entrevista recente, o presidente da República afirmou com grande ênfase que ninguém é mais responsável pela situação fiscal do país do que ele próprio. Se a frase já traz em si um tom de bravata, é ainda mais impressionante quando se observa a trajetória fiscal do governo nos últimos meses.

O presidente, que já se comparou a figuras religiosas, como Jesus Cristo, parecia ser o aniversariante da semana, mas, ao invés de gestos de humildade, propôs mais uma reunião sobre responsabilidade fiscal. O que é, no entanto, uma promessa que soa vazia em meio a uma gestão marcada por elevados déficits fiscais e aumento das despesas.

Histórico

A principal crítica não vem apenas da dificuldade do presidente em manter a verdade, mas também do histórico recente de suas políticas econômicas. Em particular, o aumento dos gastos públicos, que transformou o superávit federal de 2022 em grandes déficits nos dois anos seguintes, não demonstra qualquer compromisso com a recuperação fiscal.

O que está em jogo não é apenas a falta de credibilidade nos pronunciamentos presidenciais, mas o simples fato de que o governo não tem interesse em interromper a trajetória de expansão dos gastos públicos. Isso ocorre, principalmente, porque a alta de despesas é vista como essencial para garantir a vitória nas eleições que se aproximam.

Na prática

Em termos práticos, o atual governo implementou o segundo maior aumento de gastos da história do Brasil, só ficando atrás da pandemia de COVID-19.

No entanto, ao contrário da crise sanitária, que exigia medidas extraordinárias, a economia brasileira não enfrenta mais uma situação de emergência. Quando Lula assumiu, a economia estava crescendo cerca de 3% ao ano. E, o desemprego estava em queda. Mesmo assim, optou por expandir os gastos, especialmente por meio de transferências para famílias.

E não se trata de um aumento temporário de despesas, mas de uma decisão consciente por tornar essas elevações permanentes.

De dezembro de 2022 até outubro de 2024, o total de transferências ajustado pela inflação aumentou de R$ 1,1 trilhão para R$ 1,3 trilhão. Esse crescimento permanente das despesas mostra a intenção do governo de manter uma política fiscal expansionista. Assim, sem uma preocupação real com o equilíbrio das contas públicas.

A reversão desse processo é quase impossível neste momento, dado o calendário eleitoral e os poucos meses restantes até as eleições de 2026.

Gastos públicos

Nesse cenário, restam ao governo apenas duas opções: uma redução drástica e dolorosa dos gastos públicos, que poderia levar o país a uma recessão antes da eleição, ou, mais provavelmente, adiar o problema e torcer para que o dólar e a inflação não piorem a ponto de prejudicar o projeto político do presidente.

Ambas as opções são arriscadas, mas o governo opta pela segunda. Ao adiar o problema fiscal, a administração aposta que o impacto econômico do dólar caro e da inflação crescente será controlado antes de prejudicar as eleições de 2026.

A estratégia política do governo, ao que parece, prioriza a vitória eleitoral em detrimento da estabilidade econômica do país. O aumento do dólar e a aceleração inflacionária, resultantes dessa estratégia, são apenas danos colaterais da busca incessante pelo apoio popular em tempos de crise fiscal.

Se bravata fosse comida, o Brasil não teria problemas de fome, mas o cenário atual é claro: a falta de credibilidade nas promessas presidenciais e a ausência de um plano concreto para corrigir as contas públicas podem colocar a economia em um beco sem saída. As escolhas do governo terão consequências dramáticas, não apenas para a administração, mas para o futuro econômico do país.

Assim, ao invés de focar em uma reunião para “falar sobre responsabilidade fiscal”, o governo deveria adotar medidas concretas e urgentes para enfrentar o aumento das despesas públicas e a deterioração da confiança na sua gestão. Sem isso, o Brasil poderá enfrentar um cenário de crise econômica ainda mais grave nos próximos anos.