- Dados recentes, como queda nas vendas e no mercado de trabalho, indicam desaceleração econômica no Brasil
- A alta nos juros e a falta de estímulos fiscais aumentam a chance de recessão técnica em 2024
- Economistas revisam previsões para baixo, com possibilidade de queda do PIB nos próximos trimestres
Nos últimos dias, uma série de indicadores econômicos fracos trouxe sinais de uma possível perda de tração na atividade econômica do Brasil. Dessa forma, levando economistas a revisarem suas previsões de crescimento.
Alguns desses dados ficaram abaixo das expectativas e sugerem que o ciclo de crescimento da economia brasileira pode estar se aproximando do fim. A perspectiva de uma recessão técnica – definida como dois trimestres consecutivos de queda do Produto Interno Bruto (PIB) – já é considerada provável por economistas de pelo menos seis grandes instituições financeiras. Tais como: Bradesco, Ativa Investimentos, Monte Bravo, Nova Futura, Tendências e BV.
Embora o cenário não seja um consenso absoluto, a possibilidade de uma desaceleração econômica mais acentuada tem ganhado força nas previsões.
Sinais de perda de ritmo
A recessão técnica, embora ainda não seja unanimidade, já figura como o cenário mais provável entre os economistas dessas instituições. Muitos ajustaram suas projeções do PIB, revisando-as para baixo e ajustando os impactos do ciclo de juros elevados sobre a economia.
Esses ajustes refletem o impacto crescente da alta nas taxas de juros, adotadas pelo Banco Central para controlar a inflação. Contudo, que agora começa a afetar a atividade econômica.
Na última semana de 2024, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou uma série de dados econômicos que confirmaram a desaceleração do país.
As vendas do varejo e o volume de serviços prestados caíram mais do que o esperado, indicando uma queda no consumo e no setor de serviços.
O mercado de trabalho também apresentou dados desanimadores: em novembro, o Brasil gerou apenas 106,6 mil novas vagas de emprego com carteira assinada. Assim, o menor saldo para o mês desde o início da série histórica, em 2020, e abaixo dos 125 mil postos previstos por analistas.
Além disso, a produção industrial brasileira mostrou uma queda de 0,8% nos dois últimos meses, outubro e novembro, conforme os dados do IBGE. Esses números, em conjunto, geraram interpretações de que o crescimento da economia brasileira, que estava acima de seu potencial, pode ter se esgotado.
Impacto da política monetária
O cenário de desaceleração deve continuar ao longo de 2024, com a expectativa de que o último trimestre do ano traga o resultado mais negativo do PIB, parcialmente ofuscado pela safra recorde de grãos, especialmente a soja, que ajudará a impulsionar a economia no início deste ano.
No entanto, à medida que os efeitos da agricultura se dissiparem, a economia enfrentará uma pressão maior devido aos juros altos e à ausência de impulsos fiscais que sustentaram o crescimento nos últimos dois anos.
Esse ajuste na política fiscal, necessário para o cumprimento do novo arcabouço fiscal, deve diminuir o estímulo governamental à economia.
Thiago Xavier, economista da consultoria Tendências, afirma que, com o fim do efeito positivo da agricultura, as condições financeiras restritivas serão mais evidentes.
A combinação do aperto monetário e a diminuição do estímulo fiscal levará a uma desaceleração mais pronunciada. No cenário da Tendências, o PIB deve cair 0,6% no terceiro trimestre de 2024 e 0,2% no quarto trimestre, sinalizando que a recessão técnica é uma possibilidade concreta.
O que esperar do futuro da economia brasileira?
À medida que as previsões econômicas se ajustam, o mercado observa de perto a evolução dos indicadores. A desaceleração da economia brasileira é vista como inevitável por muitos, com a expectativa de que o impacto dos juros mais altos e a falta de estímulos fiscais vão sobrecarregar os setores mais vulneráveis, como o varejo e a indústria.
Com a perspectiva de recessão técnica se tornando cada vez mais forte, o Brasil pode enfrentar um ano de desafios econômicos, com crescimento mais fraco e uma recuperação mais lenta após o impacto da pandemia e os estímulos fiscais dos últimos anos.
A recessão técnica, caso se confirme, será um reflexo direto da interação entre a política monetária restritiva e a diminuição do gasto público, que em conjunto enfraquecerão a economia.
Assim, o Brasil provavelmente experimentará um 2024 de crescimento muito mais modesto, com possibilidade de retração nos próximos trimestres. A reação dos mercados e do governo será crucial para evitar que o cenário se agrave ainda mais.