
- Atividade econômica cresceu 1,3% no 1º trimestre, com destaque para agropecuária (+6,1%) e indústria (+1,6%).
- Crescimento superou as expectativas e levou o índice a 109,9 pontos, maior patamar desde 2003.
- Banco Central pode rever ritmo de corte de juros diante de economia mais aquecida e possíveis pressões inflacionárias.
A economia brasileira surpreendeu positivamente no início de 2025, mostrando um desempenho mais robusto do que o esperado. Segundo dados divulgados pelo Banco Central, o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), que antecipa tendências do Produto Interno Bruto (PIB), subiu 1,3% no primeiro trimestre. O avanço foi puxado por setores como agropecuária e indústria, e elevou o índice ao maior patamar desde 2003. O resultado animou o mercado, mas também trouxe novos desafios para a política monetária.
Agropecuária puxa crescimento e indústria reage
Grande parte do avanço registrado se deve ao desempenho expressivo do setor agropecuário, que teve alta de 6,1% no trimestre. As boas condições climáticas e a expansão da safra de grãos, sobretudo soja e milho, ajudaram a elevar a produtividade e o valor adicionado do campo. O crescimento consistente desse setor impulsionou regiões produtoras e gerou efeitos positivos em toda a cadeia logística e de exportação.
Além disso, a indústria apresentou sinais claros de recuperação ao crescer 1,6% no mesmo período. Esse resultado representa uma virada relevante em relação ao último trimestre de 2024, quando a produção havia estagnado. Com a retomada da construção civil, a melhora nos bens de capital e a leve alta nos investimentos produtivos, o setor industrial contribuiu para ampliar a base do crescimento.
Já o setor de serviços, responsável por mais de 70% do PIB brasileiro, avançou 0,7%. Embora esse crescimento seja mais modesto, ele aponta para uma estabilização relevante em áreas como transporte, comércio e serviços prestados às famílias. A tendência é de leve aquecimento nos próximos meses, conforme o mercado de trabalho se ajusta e a renda começa a reagir, ainda que de forma gradual.
O resultado geral do IBC-Br aponta que a economia está em trajetória de recuperação mais firme e disseminada. O índice acumulou uma alta de 3,7% na comparação com o primeiro trimestre de 2024 e já registra avanço de 4,2% nos últimos 12 meses. Esse movimento demonstra uma retomada mais sustentada, após um período de incertezas no fim do ano passado.
Ritmo acima do esperado desafia o Banco Central
Os dados vieram acima das projeções dos analistas, que estimavam um crescimento trimestral em torno de 1%. Só em março, a alta foi de 0,8% em relação a fevereiro, superando a previsão mediana de 0,5% do mercado financeiro.
O resultado reforça o diagnóstico de que a atividade econômica está mais aquecida do que se imaginava. Com o IBC-Br atingindo 109,9 pontos na série dessazonalizada – o maior nível desde o início da medição, em 2003 – a trajetória da economia pode exigir cautela nas decisões de política monetária.
Isso porque o Banco Central, atualmente em processo de afrouxamento da taxa básica de juros (Selic), pode precisar reavaliar o ritmo de cortes, caso o crescimento acelerado pressione a inflação nos próximos meses. Essa possibilidade já começa a ser considerada por economistas que acompanham de perto a política monetária.
Perspectivas e desafios no horizonte
Embora o avanço da economia seja positivo, o cenário ainda inspira atenção. Fatores como o crescimento global modesto, os juros altos nos Estados Unidos e as incertezas fiscais no Brasil continuam sendo obstáculos para um crescimento sustentável a longo prazo.
Além disso, apesar da melhora em setores produtivos, o consumo das famílias segue contido, impactado por endividamento elevado e renda ainda pressionada. Para que o ritmo atual se mantenha, será necessário fortalecer políticas que incentivem investimentos, aumentem a produtividade e estimulem o mercado de trabalho.
A leitura do IBC-Br também será acompanhada de perto pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que divulgará os dados oficiais do PIB no fim de maio. Mesmo sendo uma prévia, o índice costuma antecipar com razoável precisão a tendência da economia, servindo de guia tanto para o governo quanto para o setor privado.