Análise

Economista diz que "não esperava uma deterioração tão rápida dos indicadores" com Lula 3

A economista Elena Landau critica o governo Lula, destacando a insuficiência do arcabouço fiscal e a necessidade de medidas drásticas para conter a crise fiscal do Brasil.

Economista diz que "não esperava uma deterioração tão rápida dos indicadores" com Lula 3

A economista e advogada Elena Landau se mostrou pessimista quanto à atual situação fiscal do Brasil, apontando que as medidas adotadas pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) são insuficientes para enfrentar a crise fiscal que o país atravessa. Em entrevista à Folha de S. Paulo, ela afirmou que o arcabouço fiscal proposto pelo governo é apenas paliativo e que o Brasil precisa de uma mudança radical, o que ela chamou de “cavalo de pau”.

A crise fiscal e a falta de confiança

Para Landau, a crise fiscal brasileira é evidente. A dívida pública, que já representa cerca de 77% do Produto Interno Bruto (PIB), está em crescimento acelerado e, sem medidas estruturais, pode levar a uma situação ainda mais grave.

“O Brasil vive uma crise de substituição. Ninguém confia no amanhã ou que Lula vai mudar. Então, é Lula quem precisa mudar essa percepção”.

afirmou a economista.

Em sua visão, o mercado de trabalho aquecido no país pode ser apenas um “voo de galinha”, já que o aumento das taxas de juros e a desvalorização do real irão penalizar principalmente os mais pobres. Landau criticou a postura do governo em culpar o mercado financeiro pelos problemas econômicos, sem considerar a fragilidade fiscal que afeta o Brasil.

O arcabouço fiscal: medidas insuficientes

Landau não poupou críticas ao arcabouço fiscal do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Para ela, a proposta não resolve os problemas estruturais da economia e só faz ajustes superficiais, sem um pacote fiscal robusto que enfrente a real necessidade de controle do gasto público. “O arcabouço fiscal faz paliativos — ajusta um pouquinho ali, um pouquinho aqui. Não está funcionando”, destacou.

A economista também apontou a falta de ação efetiva para reduzir a dívida pública. Atualmente, o Brasil apresenta uma dívida em relação ao PIB muito superior ao que era observado nos últimos anos de governo de Lula, quando a relação estava em torno de 55%. Ela afirmou que o Brasil precisa de uma ação mais drástica, sem espaço para gradualismo.

O mercado e a economia: um cenário preocupante

Landau destacou que as expectativas econômicas para o Brasil são negativas. Embora o PIB tenha mostrado crescimento e o desemprego tenha caído, ela alertou que esses números não são sustentáveis sem mudanças estruturais. Ela criticou a abordagem gradualista do governo e afirmou que o Brasil precisa de um “cavalo de pau” fiscal para reverter a situação.

A economista também lamentou a postura do governo em relação à inflação e à política cambial. “Essa história de que o povo não veem dólar já acabou. As pessoas já entenderam que o povo vem dólar: em algum momento, o câmbio bate na inflação de alimentos”, afirmou, destacando o impacto negativo que a desvalorização do real tem sobre a população, especialmente os mais pobres.

O papel do presidente e a falta de ação

Landau também fez duras críticas ao presidente Lula, apontando que ele não tem dado sinais claros de que compreende a gravidade da situação fiscal do país. Ela lembrou que o governo começou com a expectativa de que as taxas de juros ficariam abaixo de 10% e que o dólar se manteria no patamar de R$ 5, mas agora as taxas estão próximas de 14% e o dólar ultrapassa os R$ 6. A economista criticou a postura do governo em relação às suas ações fiscais, mencionando o aumento de gastos com o funcionalismo e a falta de privatizações essenciais.

Expectativas para o futuro: desafios e necessidade de reformas

Para Landau, o Brasil precisa urgentemente de reformas estruturais. Ela citou a reforma da Previdência e a revisão do gasto tributário como áreas essenciais para a contenção dos gastos públicos. Ela também sugeriu que a Zona Franca de Manaus, um dos maiores gastos tributários do país, deveria ser repensada, já que não gera os resultados esperados para a economia brasileira.

Por fim, a economista afirmou que, apesar de sua visão pessimista, ainda acredita que Lula pode dar sinais de mudanças. “Eu acredito que, apesar do ajuste fiscal não estar no DNA do presidente, ele vai dar algum sinal”, disse, destacando a necessidade de uma ação decisiva para reverter o atual cenário fiscal.