Comando do BC

Economistas avaliam expectativas para Galípolo no novo comando do BC

Nomeação marca a primeira troca de comando sob a autonomia do Banco Central, em um cenário de desafios fiscais e alta da Selic.

Economistas avaliam expectativas para Galípolo no novo comando do BC
  • Lula nomeia Gabriel Galípolo como novo diretor de Política Monetária do Banco Central, com posse marcada para 1º de janeiro de 2025
  • A alta da Selic e a incerteza fiscal serão os principais desafios para o BC sob a liderança de Galípolo, com expectativas de juros elevados em 2025
  • Economistas acreditam que Galípolo, com sua experiência técnica, poderá alinhar a política monetária às realidades fiscais do país, influenciando a estabilidade econômica

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), formalizou na segunda-feira (30) a nomeação de Gabriel Galípolo como novo diretor de Política Monetária do Banco Central (BC). O termo de posse foi assinado no Palácio do Alvorada, e, com a publicação do decreto, Galípolo assumirá oficialmente o cargo a partir de 1º de janeiro de 2025.

Essa troca de comando marca a primeira mudança sob o regime de autonomia do Banco Central, que foi conquistada durante o governo de Jair Bolsonaro.

O processo de nomeação de Galípolo não foi simples, com uma série de tensões entre o governo e sua base política, especialmente devido a ataques direcionados ao presidente do BC, Roberto Campos Neto, que deixa o cargo.

Postura do governo

Em um momento de forte crítica à postura do governo em relação à autonomia do BC, Lula finalmente afirmou que respeitará essa independência e não interferirá nas decisões da autoridade monetária. Assim, reafirmando seu compromisso com a autonomia da instituição.

A proximidade de Galípolo com o governo, especialmente com o presidente Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, gerou desconforto no mercado financeiro.

Alguns economistas temiam que a nomeação de um nome tão ligado ao Executivo pudesse comprometer a independência do BC. No entanto, especialistas como Tony Volpon, ex-diretor do BC, acreditam que essa preocupação foi superada.

Segundo Volpon, a experiência técnica de Galípolo deve trazer benefícios ao governo, pois ele pode levar ao Planalto uma visão mais realista sobre os desafios fiscais e os riscos econômicos que o Brasil enfrentará em 2025.

“Ele tem um trabalho técnico bastante positivo e de fato tem mostrado um compromisso com o trabalho do Banco Central”, afirmou Volpon.

Atuação de Galípolo

A atuação de Galípolo como diretor de Política Monetária será fundamental em um momento delicado da economia brasileira.

O BC tem adotado uma postura firme de controle da inflação. Assim, com uma política de juros elevados, o que resultou em uma Selic mais alta em 2024.

Embora a taxa tenha começado o ano em 11,25% ao ano, ela subiu para 12,25% após a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

A expectativa é que a Selic atinja 14,25% até março de 2025. Com algumas projeções do mercado, como a da Warren Rena, apontando para um patamar de 14,75% ao final do ciclo de endurecimento da política monetária.

No entanto, a alta da taxa de juros não está dissociada da situação fiscal do país. O economista Sérgio Goldenstein, da Warren Rena, afirmou que a desancoragem das expectativas do mercado não é causada por temores sobre um BC mais leniente. Mas, sim pela incerteza fiscal, que impacta diretamente as expectativas sobre a dívida pública e o crescimento da economia.

“A Selic deve continuar elevada em 2025, devido ao cenário fiscal ainda indefinido”, disse Goldenstein.

As projeções para 2025 dependem em grande parte da postura do governo em relação à implementação de medidas fiscais.

Para o economista Tony Volpon, se o governo adotar uma postura mais firme e apresentar soluções fiscais no início do ano, o mercado poderá reagir positivamente. Assim, com possíveis quedas na taxa de juros ao longo do ano.

Reformar fiscais

Por outro lado, a ausência de reformas fiscais pode resultar em uma reação negativa do mercado. Ainda, com aumento da desconfiança e possíveis picos do dólar.

A chegada de Galípolo ao comando do BC acontece em um cenário de incertezas fiscais e desafios econômicos.

Embora a sua nomeação tenha gerado controvérsias, muitos acreditam que, com uma postura técnica e alinhada com a realidade econômica do país, ele poderá contribuir para a estabilidade da política monetária. Contudo, sempre dentro dos limites impostos pela autonomia do Banco Central.

O sucesso de sua gestão dependerá, em grande parte, das ações fiscais do governo e da habilidade de navegar por um cenário econômico turbulento. O presidente Lula, ao tomar decisões em relação à política econômica, desempenha um papel crucial nesse processo.