Orçamento pressionado

Endividamento das famílias brasileiras volta a crescer e já atinge metade da renda

Comprometimento da renda com dívidas chega a 27,8% e se aproxima de recordes históricos, segundo Banco Central.

Endividamento das famílias brasileiras volta a crescer e já atinge metade da renda
  • Endividamento das famílias sobe para 49% da renda em maio e se aproxima do pico de 2022.
  • Comprometimento de renda com o sistema financeiro chega a 27,8%, maior nível desde janeiro.
  • Dívidas sem crédito imobiliário também aumentam e indicam pressão sobre o consumo.

O endividamento das famílias brasileiras voltou a crescer em maio e se aproxima do recorde histórico, segundo dados divulgados nesta segunda-feira (28) pelo Banco Central (BC). Assim, o índice, que mede a relação entre o total de dívidas e a renda acumulada em doze meses, subiu para 49,0%, contra 48,9% em abril (dado revisado).

O maior patamar da série foi registrado em julho de 2022, quando o endividamento atingiu 49,9%. Desde então, o indicador vinha oscilando, mas voltou a subir em 2025, refletindo o impacto dos juros elevados e da inflação persistente sobre o orçamento das famílias.

Comprometimento de renda atinge 27,8%

Outro dado que chama atenção no levantamento do Banco Central é o comprometimento de renda, que mede quanto da renda mensal das famílias está sendo usada para pagar parcelas de dívidas. Em maio, esse índice avançou de 27,4% (abril revisado) para 27,8%.

Além disso, o dado mostra que mais de um quarto da renda das famílias está comprometido com o sistema financeiro nacional, o que reduz a capacidade de consumo e poupança. Logo, o aumento ocorre mesmo sem crescimento proporcional da renda, evidenciando o peso das dívidas no orçamento doméstico.

Sendo assim, quando se excluem as dívidas imobiliárias, o comprometimento de renda sobe de 25,2% para 25,7%, revelando uma pressão ainda maior sobre os gastos correntes e dívidas de curto prazo, como cartão de crédito e empréstimos pessoais.

Esse avanço pode limitar a recuperação da economia nos próximos trimestres, já que o consumo das famílias é um dos principais motores do PIB brasileiro.

Dívidas sem imóveis recuam, mas impacto segue forte

Embora o índice geral de endividamento tenha subido, as dívidas sem crédito imobiliário registraram uma leve queda. O indicador recuou de 30,8% para 30,7% em maio, sinalizando um ajuste marginal no perfil das obrigações financeiras.

Mesmo assim, o endividamento total continua elevado, especialmente porque o crédito imobiliário representa um tipo de dívida de longo prazo e com juros mais baixos. Já os débitos de curto prazo têm taxas mais altas e prazos curtos, o que agrava o comprometimento da renda.

Esse cenário reforça os efeitos da Selic elevada, atualmente em 15%, sobre o orçamento familiar. Os juros altos encarecem os financiamentos, aumentam o custo do rotativo e dificultam a renegociação de dívidas.

Além disso, a inflação acumulada pressiona a renda disponível, tornando mais difícil quitar compromissos sem comprometer o consumo básico.

Tendência é de alerta, dizem analistas

Para especialistas, os dados revelam uma situação preocupante. Embora o Brasil não tenha batido o recorde de endividamento, o avanço recente mostra que o ciclo de aperto monetário ainda impõe desafios à população.

Ademais, com a Selic mantida em patamar elevado e sem perspectiva clara de corte no curto prazo, a tendência é que o comprometimento da renda permaneça alto, especialmente entre famílias de baixa renda.

Segundo analistas, o crescimento da inadimplência e a alta concentração de renda comprometida com dívidas podem agravar a desigualdade e reduzir a capacidade de consumo. Isso coloca pressão adicional sobre o governo e sobre o Banco Central para buscar soluções estruturais, como a ampliação do crédito responsável e a educação financeira.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.