Jogo perigoso

Endividamento por bets dobra em 11 meses e acende alerta no Brasil

Pesquisa mostra que 35% dos apostadores online já se endividaram, contra 16% no ano passado; governo corre para criar medidas de contenção.

(Hirurg/Getty Images)
(Hirurg/Getty Images)
  • Número de endividados por bets dobrou em 11 meses, passando de 16% para 35%.
  • Lulistas aparecem mais endividados (40%) que bolsonaristas (24%), segundo o levantamento.
  • Homens, famílias de baixa renda e pessoas com escolaridade básica estão entre os mais afetados.

O endividamento causado por apostas on-line dobrou em menos de um ano no Brasil. Segundo levantamento do PoderData, o percentual de apostadores que afirmam ter contraído dívidas por causa das chamadas bets saltou de 16% em outubro de 2024 para 35% em setembro de 2025.

A pesquisa ouviu apenas os eleitores que declararam já ter apostado em plataformas digitais, grupo que representa 36% da população. Dentro deste recorte, 51% afirmaram não ter dívidas, enquanto 14% preferiram não responder. O dado mostra que o problema se consolidou como um fenômeno social de grandes proporções.

A escalada do endividamento com bets

A legalização das apostas esportivas em 2018 abriu espaço para um mercado bilionário. No entanto, a regulamentação só entrou em vigor em janeiro de 2025, trazendo regras mais rígidas para o setor. Esse novo ambiente regulado, segundo analistas, estimulou mais brasileiros a declarar que apostam — e, consequentemente, a expor os impactos financeiros da prática.

O crescimento acelerado do endividamento reflete não apenas a popularização das plataformas, mas também a sensação de segurança após a regulamentação. Com o mercado oficializado, parte dos apostadores se sente mais à vontade para assumir publicamente que contraiu dívidas com jogos.

O governo, preocupado com os efeitos colaterais, lançou planos de mitigação. Entre eles estão iniciativas de saúde mental, mecanismos de autoexclusão voluntária e a proibição de apostas por beneficiários do Bolsa Família e do BPC.

O peso político no perfil dos endividados

O recorte da pesquisa traz um dado que chama a atenção: eleitores de Lula se endividaram mais que bolsonaristas. Entre os que votaram no petista no 2º turno de 2022, 40% disseram ter dívidas com bets. Já entre apoiadores de Bolsonaro, o índice ficou em 24%.

Esse cruzamento mostra como o impacto das apostas digitais atravessa também o campo político. A associação entre renda, perfil socioeconômico e orientação de voto ajuda a explicar a disparidade nos números.

Mesmo com a divergência entre grupos eleitorais, a pesquisa evidencia que o fenômeno do endividamento por apostas atinge todas as camadas sociais. Trata-se, portanto, de uma questão que ultrapassa preferências políticas.

Quem mais sofre com as dívidas

O levantamento ainda revela recortes demográficos preocupantes. Homens lideram a lista dos mais endividados, com 43% declarando dívidas. Entre mulheres, a taxa cai para 26%.

A situação é ainda mais grave em famílias de baixa renda. Entre aqueles que recebem até 2 salários mínimos, 40% afirmaram ter se endividado. A taxa é parecida entre pessoas com apenas o ensino fundamental: 42%.

Regionalmente, o problema é mais intenso no Norte e Nordeste, com índices acima de 35%, enquanto no Sul e Sudeste as taxas ficam em torno de 26% a 38%. O dado mostra que o endividamento com bets é um problema nacional, mas com maior peso nas regiões mais vulneráveis economicamente.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.