Mitigando riscos

Entenda como os bancos brasileiros correm risco de bloqueio nos EUA e já fazem lobby milionário em Washington

A ofensiva dos bancos brasileiros em Washington revela a dimensão do temor com a Lei Magnitsky e o que pode estar por vir.

brasil eua
brasil eua
  • Bancos brasileiros reforçam lobby em Washington para reduzir risco de sanções da Lei Magnitsky.
  • Relatório da Eurasia aponta chance de novas medidas, como revogação de vistos e inclusão de mais autoridades na lista.
  • Setor teme que pressões sobre crime organizado e fintechs ampliem impacto político e financeiro nos próximos meses.

A tensão entre Brasil e Estados Unidos após as sanções aplicadas pela Lei Magnitsky começa a gerar reação direta do sistema financeiro nacional. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) contratou o escritório americano Arnold & Porter para atuar em Washington, temendo a inclusão de bancos brasileiros em futuros pacotes de punições.

A decisão ocorre justamente após o Supremo Tribunal Federal (STF) condenar Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado e em meio à expansão da lista de autoridades brasileiras sancionadas pelos EUA, que já atinge ministros, familiares e empresas ligadas ao Judiciário.

Lobby nos bastidores

O escritório Arnold & Porter, onde atua o ex-embaixador dos EUA no Brasil Thomas Shannon, tem a missão de realizar um verdadeiro “corpo a corpo” com integrantes do governo e congressistas americanos. Mais do que apenas assessoramento jurídico, a estratégia busca mapear riscos e mitigar danos a instituições financeiras brasileiras.

Enquanto isso, figuras alinhadas a Jair Bolsonaro, como o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o blogueiro Paulo Figueiredo, atuam em sentido contrário nos Estados Unidos. Ambos pedem a Donald Trump que amplie a aplicação da Magnitsky contra autoridades brasileiras, incluindo o Banco do Brasil, responsável pela folha de pagamento do STF.

Desse modo, a Febraban confirmou a contratação em nota oficial, alegando que o objetivo é “acompanhar a evolução das questões relativas ao setor bancário nos EUA”. Procurado, Shannon evitou comentar sobre clientes do escritório.

Expansão das sanções

Nesta segunda-feira (22), os EUA incluíram Viviane Barci de Moraes, esposa do ministro Alexandre de Moraes, e a empresa da família na lista de sancionados. O ministro, relator da ação penal da trama golpista no STF, já foi atingido em julho, quando instituições financeiras internacionais bloquearam cartões e impuseram restrições.

Ademais, o receio no setor bancário é de que, após a condenação de Bolsonaro e aliados, novos nomes da alta cúpula do Judiciário e do governo Lula também passem a integrar a lista de sanções. Isso poderia ampliar a pressão sobre bancos brasileiros que operam nos EUA e dependem do sistema financeiro global.

A Eurasia Group indica três medidas mais prováveis. Logo, os EUA podem revogar vistos de autoridades. Também podem incluir novos nomes na lista Magnitsky. Além disso, podem classificar facções como PCC e Comando Vermelho como terroristas.

Crime organizado no radar

A preocupação não se limita à política. Operações recentes da Polícia Federal, como a Carbono Oculto, miraram fintechs e gestoras ligadas ao PCC, aumentando a pressão por maior fiscalização no setor. Bancos tradicionais reforçam que pedem há anos que fintechs tenham obrigações regulatórias equivalentes para reduzir riscos de infiltração do crime organizado.

O governo dos EUA chegou a solicitar que o Brasil classificasse facções criminosas como terroristas. A proposta, porém, foi rejeitada pelo Ministério da Justiça em maio, já que a lei brasileira exige motivação político-ideológica para enquadrar grupos como terroristas. Além disso, a mudança poderia colocar o Brasil sob risco de sanções econômicas internacionais e dificultar o acesso a crédito em organismos multilaterais.

Por fim, apesar das negativas, fontes do setor financeiro afirmam que a Febraban quer manter proximidade com Washington para antecipar possíveis movimentos e evitar impactos mais severos sobre o sistema bancário brasileiro.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.