Trump e as criptomoedas

Envolvimento de Trump faz crescer o interesse de investidores na World Liberty Financial ($WLFI)

A empresa foi anunciada dois meses antes das eleições americanas por Trump e já arrecadou pelo menos R$ 1.7 bilhões com a venda dos tokens $WLFI.

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Envolvimento de Trump faz crescer o interesse de investidores na World Liberty Financial ($WLFI)

No domingo, às vésperas da posse de Donald Trump, Mike Dudas, investidor cripto adquiriu mais de R$ 855 mil em tokens da World Liberty Financial, empresa que pertencente ao presidente dos EUA.

Os tokens da World Liberty Financial concedem aos seus detentores poder de voto em decisões sobre funcionalidades do produto e estratégias de marketing, diferente de criptomoedas como Bitcoin e Ether que são tipicamente usadas para pagamentos ou desenvolvimento de aplicativos.

Dudas afirmou que investiu no projeto devido à sua amizade com os consultores da empresa e ao entusiasmo com a proposta de tornar as finanças descentralizadas (DeFi) mais acessíveis.

“Acredito que esses tokens terão uma valorização significativa”, declarou Dudas à Reuters, justificando seu investimento.

“Acho que uma empresa DeFi ligada a Trump pode valer muito, e o preço da venda pública estava atrativo”.

DeFi é uma rede financeira operada com criptomoedas, sem intermediários tradicionais como bancos.

Outros cinco investidores foram localizados em Gibraltar e Porto Rico, que compraram milhões de tokens $WLFI, com base em entrevistas e dados da Nansen, uma empresa de análise de blockchain sediada em Singapura.

A conexão com Trump foi o principal atrativo para alguns desses investidores, segundo entrevistas com Dudas e outros dois participantes.

A World Liberty Financial está “diretamente ligada ao nosso novo presidente cripto, Donald Trump”, afirmou o Sigil Fund, um fundo de Gibraltar cujo diretor de investimentos é um dos compradores de tokens.

O diretor, conhecido pelo pseudônimo “Fiskantes”, gastou 40 Ether (cerca de R$ 802mil) na quarta-feira adquirindo tokens $WLFI, segundo informações enviadas por e-mail.

A World Liberty Financial foi anunciada dois meses antes das eleições americanas por Trump, seus três filhos e um de seus principais conselheiros, o bilionário do setor imobiliário Steve Witkoff. A empresa já arrecadou pelo menos R$ 1.7 bilhões com a venda dos tokens $WLFI, segundo cálculos da Reuters baseados no site e nas redes sociais da World Liberty.

Os empreendimentos de Trump no mercado cripto, incluindo a memecoin $TRUMP, que atingiu R$ 45 bilhões em valor de mercado em poucos dias, geram preocupações entre especialistas em ética, participantes do mercado e outros, devido aos riscos de conflito de interesses e potencial influência sobre o governo.

Trump é conhecido por emprestar seu nome para a venda de diversos produtos e serviços, contudo especialistas em ética afirmam que Trump não parece ter violado nenhuma lei. Embora regulamentos federais proíbam funcionários do poder executivo de se envolverem em questões políticas que afetem seus interesses financeiros, essa lei não se aplica ao presidente ou vice-presidente.

Trump e outros sócios não identificados receberão 75% de algumas receitas da World Liberty Financial e deterão cerca de 22,5 bilhões de tokens $WLFI por meio de subsidiárias. Até quarta-feira (22/01), o projeto havia vendido outros 22 bilhões de tokens a investidores. Não está claro quanto desse dinheiro, se houver, vai para Trump, de acordo com o “gold paper” da World Liberty em seu site.

Os tokens da World Liberty Financial não podem ser revendidos a outros investidores.

Fundador da rede Tron é o maior investidor

Justin Sun, fundador da rede blockchain Tron, lidera as compras de tokens da World Liberty Financial, com investimentos de pelo menos R$ 44 milhões, de acordo com suas publicações no X. A aquisição do tokens levanta preocupações considerando especialmente o suposto uso da Tron por grupos militantes e as acusações pendentes contra Sun por reguladores de valores mobiliários dos EUA.

Outro ponto que chama a atenção é que as compras de Sun coincidem com aquisições de tokens TRX, a criptomoeda da Tron, pela própria World Liberty Financial anunciado na segunda-feira. A empresa detém agora 30 milhões de TRX, avaliados em R$ 43 milhões, segundo a Arkham Intelligence.

Na quarta-feira, Sun publicou no X: “Na minha opinião, se ganhei dinheiro com criptomoedas, todo o crédito vai para o presidente Trump”.

Desde a primeira compra de tokens WLF por Sun, em 25 de novembro, e o anúncio, no dia seguinte, de sua posição como conselheiro da World Liberty Financial, o preço do TRX subiu 29%, chegando a US$ 0,25, embora ainda distante da máxima de US$ 0,43 registrada em dezembro.

Pouco investimento e grandes retornos

Os custos para criar empresas de criptomoedas são insignificantes, quando comprado a fábricas e/ou armazéns, observa Jeff Hauser, diretor do Projeto Revolving Door (Porta Giratória), uma organização sem fins lucrativos que analisa funcionários do poder executivo.

“Portanto, o investimento político é a forma de influenciá-lo.”

Trump afirmou que transferirá a gestão diária de seus ativos comerciais para seus filhos ao assumir a presidência. Questionado na terça-feira se continuaria a vender produtos como sua memecoin $TRUMP, lançada no fim de semana da posse, e se isso poderia beneficiá-lo enquanto presidente, Trump respondeu: “Não sei muito sobre isso, além de que a lancei. Ouvi dizer que foi muito bem-sucedida. Não verifiquei. Onde ela está hoje?”

Dudas, fundador do The Block, um veículo de mídia especializado em criptomoedas, comprou 9,7 milhões de tokens a US$ 0,015 cada, de acordo com registros de blockchain compartilhados com a Reuters.

Questionado sobre a possibilidade de conflito de interesses, Dudas rejeitou a ideia. “Isso é muito diferente de uma memecoin com o nome do presidente”, afirmou, referindo-se à moeda $TRUMP, que exibe uma imagem da tentativa de assassinato do presidente. Dudas enfatizou que a World Liberty Financial representa o futuro das finanças descentralizadas.

Dudas, ex-democrata e agora independente, disse ter doado a republicanos durante o último ciclo eleitoral, citando a suposta hostilidade do governo Biden à indústria de criptomoedas.

Grandes investidores

Apesar dos esforços, não foi possível determinar o número total de detentores individuais do token. Justin Sun, é o maior investidor externo no token, de acordo com essa análise. Em 2023, ele foi acusado pela SEC de fraude relacionada à negociação de criptomoedas e ocultação de pagamentos a celebridades para promover suas empresas.

O caso está pendente. O empresário, radicado na Suíça, afirmou que as acusações da SEC “não têm mérito”.

Outro comprador dos tokens é Troy Murray, um empreendedor de criptomoedas baseado em Porto Rico, segundo dados da Nansen. Murray comprou cerca de 666.000 tokens $WLFI.

Em 2023, Murray recebeu uma ordem de cessar e desistir da SEC por uma empresa de blockchain que ele desenvolveu para vender investimentos complexos por meio de veículos de ativos cripto, violando as leis de valores mobiliários. O caso foi resolvido naquele ano.

“Eu estava curioso sobre a estrutura jurídica que eles criaram para vender os tokens e, depois de passar por todas as etapas, pensei: por que não?”, disse Murray à Reuters em uma mensagem no X, adicionando o emoji “porquenão”.