
e Uma investigação retomada pelos EUA revelou que a tradicional Rua 25 de Março, em São Paulo, epicentro do comércio popular no Brasil, foi usada como base de coleta de dinheiro vivo para alimentar o esquema de propinas da Odebrecht. O esquema ocorreu entre 2013 e 2015, quando lojas da região, principalmente de confecções, brinquedos e papelaria, movimentavam grandes volumes de dinheiro não rastreado, em parte utilizado para pagamentos ilícitos ligados ao setor de infraestrutura e política.
De acordo com delações e documentos obtidos pela Polícia Federal, operadores do mercado paralelo de câmbio atuavam junto a uma transportadora de valores contratada pelos doleiros. Essa empresa fazia a coleta do dinheiro em espécie diretamente nas lojas da 25 de Março e também no Brás. Cada retirada podia chegar a R$ 500 mil. O montante era então encaminhado para escritórios comerciais usados como bunkers de lavagem e redistribuição de recursos, antes de seguir para os destinatários finais: políticos e agentes públicos beneficiados por contratos fraudados com a Odebrecht.
Dinheiro em mochilas e sacolas
Parte dessas operações contou com o apoio de policiais militares, alguns ainda na ativa e outros aposentados. Eles realizavam o transporte do dinheiro em mochilas ou sacolas esportivas e recebiam R$ 180 por dia para atuar no circuito clandestino. Os PMs eram responsáveis por assegurar a movimentação segura dos valores até os pontos de troca controlados pelos doleiros. A denúncia expõe o envolvimento de agentes do Estado no suporte logístico da corrupção empresarial em larga escala.
A revelação surge no mesmo momento em que os Estados Unidos, sob a gestão de Donald Trump, intensificam a ofensiva comercial contra o Brasil, citando práticas de pirataria e concorrência desleal. Em documento publicado pela Representação Comercial dos EUA (USTR), a Rua 25 de Março foi diretamente mencionada como exemplo de zona livre para produtos falsificados e práticas ilegais de comércio. O relatório também acusa o uso de ferramentas como o Pix para facilitar a movimentação financeira irregular, apontando risco sistêmico para empresas norte-americanas.
25 de março abastecendo campanhas políticas
O elo entre a denúncia da Lava Jato e a ação americana deu novo fôlego ao debate sobre as vulnerabilidades institucionais do Brasil. Para os investigadores, a 25 de Março funcionava não apenas como centro de vendas, mas como parte de um sistema financeiro paralelo, capaz de abastecer campanhas políticas e manter a engrenagem da corrupção girando com eficiência.