Legado diferente

Esqueça a Eletrobras do passado: empresa vira a página e síndrome de estatal já era

Três anos após a privatização, a maior elétrica do país ainda se desfaz de ativos inesperados, como hospital e cinema, em busca de eficiência.

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  • Eletrobras herdou ativos como hospital, cinema e aeroporto durante a era estatal
  • Ações agora superam o preço da privatização, após três anos abaixo da oferta
  • CEO promove cortes de custos, venda de ativos e pagamento de dividendos

A Eletrobras, maior empresa de energia da América Latina, se privatizou em 2022 com a promessa de ganhar mais eficiência e competitividade. Contudo, a transição revelou um legado incomum: um conjunto de ativos que nada tinham a ver com o setor elétrico.

Entre eles estavam um hospital, hotéis, um cinema e até mesmo um aeroporto. Esses bens, herdados da época em que a estatal precisava erguer cidades para viabilizar hidrelétricas, viraram um peso na gestão atual e se tornaram símbolo da herança burocrática que a nova administração tenta desmontar.

O peso do passado

A estatal nasceu nos anos 1960 como um braço essencial do projeto de crescimento do Brasil. Para viabilizar grandes obras, construiu não apenas usinas, mas também cidades inteiras. Esse processo gerou a posse de bens que iam muito além da energia, de imóveis residenciais a equipamentos públicos.

No entanto, esse conjunto de ativos se transformou em dor de cabeça. Mantê-los significava custos de manutenção sem retorno estratégico para o caixa da companhia. O mercado passou a ver a Eletrobras como um exemplo de ineficiência estatal.

A privatização trouxe a expectativa de mudança, mas desmontar uma estrutura criada ao longo de décadas não é simples. A herança estatal se mostrou maior do que imaginado.

A virada na bolsa

Por quase três anos, as ações ficaram abaixo do preço de oferta de R$ 42, reflexo da desconfiança dos investidores. Mas esse cenário começou a se reverter em 2025.

A empresa reportou aumento expressivo de receita, distribuiu dividendos bilionários e mostrou avanços na gestão. O papel rompeu a barreira dos R$ 42 e passou a ser negociado de forma consistente acima desse patamar.

O movimento sinalizou ao mercado que a Eletrobras, finalmente, começava a dar sinais de eficiência após anos de incerteza.

A estratégia de corte

Ivan Monteiro, CEO desde 2023, lidera um plano agressivo de simplificação. A gestão reduziu em 17% o quadro de funcionários, cortou custos em 18% e iniciou a venda de ativos não essenciais.

O hospital de Paulo Afonso (BA) foi doado a uma universidade, enquanto o aeroporto de Furnas passou para a Marinha. O cinema e hotéis seguem em processo de alienação.

Essas ações não só reduziram despesas, mas também enviaram uma mensagem clara: a empresa agora busca disciplina e eficiência, algo valorizado pelo mercado.

Impactos regionais e políticos

O caso da Eletrobras tem eco em toda a América Latina. Governos como o da Argentina, de Javier Milei, acompanham de perto o processo, enxergando na experiência brasileira um modelo possível para privatizações.

No Brasil, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, também se apoia nesse exemplo em sua agenda de desestatizações. Porém, as resistências políticas permanecem, já que o governo Lula mantém influência por meio de participação acionária e poder no conselho.

Apesar das tensões, os avanços são claros. A Eletrobras sinaliza que a privatização pode gerar frutos concretos, desde que mantenham o ritmo das reformas, com mais transparência e menos burocracia.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.