
- A criação do órgão, acordado entre Brasil e Paraguai em 2021 para fiscalizar os gastos da hidrelétrica, está estagnada, com o governo Lula suspendendo a análise da proposta
- O Itamaraty só retomará o assunto depois de concluir as negociações do Anexo C em junho, que ajustará as bases financeiras das tarifas de energia
- A demora na implementação da comissão deixa os gastos bilionários da Itaipu sem fiscalização binacional
O processo de criação da Comissão Binacional de Contas da hidrelétrica de Itaipu está parado desde 2023. O órgão, acordado por Brasil e Paraguai em 2021, deveria fiscalizar os gastos da empresa, mas o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) suspendeu a análise da proposta.
Segundo o Ministério das Relações Exteriores, o tema só voltará à pauta após a conclusão das negociações do Anexo C, prevista para junho, que redefinirá as bases financeiras das tarifas de energia.
Gastos bilionários e falta de fiscalização
A ausência de um órgão externo de controle alimenta críticas sobre a destinação dos recursos da hidrelétrica. Itaipu investiu R$ 1,3 bilhão em projetos relacionados à COP30, que será realizada em novembro em Belém (PA), a mais de 2.800 km de Foz do Iguaçu, onde está localizada a usina. Além disso, destinou R$ 15 milhões para um evento cultural paralelo à Cúpula do G20, no Rio de Janeiro, em 2023.
Esses gastos, que não possuem relação direta com a geração de energia, intensificam questionamentos sobre transparência e eficiência na gestão dos recursos.
A situação se agrava porque, por ser uma empresa binacional, Itaipu não está sujeita à fiscalização direta dos tribunais de contas do Brasil ou do Paraguai. Apesar das críticas, a usina alega que adota padrões internacionais e possui uma política rigorosa de controle financeiro.
Orçamento de 2025 mantém alto volume de gastos
O orçamento da hidrelétrica para 2025 prevê quase R$ 9 bilhões (US$ 1,58 bilhão no câmbio atual) na categoria “outros”, sem especificação de destino. Deste montante, R$ 4,8 bilhões (US$ 849,6 milhões) estão alocados para o lado brasileiro. Enquanto, R$ 4,2 bilhões (US$ 730,5 milhões) vão para a gestão paraguaia.
No total, a hidrelétrica prevê custos de R$ 15,8 bilhões (US$ 2,8 bilhões) para a prestação de serviços de eletricidade aos consumidores dos dois países este ano.
O governo destina esses valores a projetos sociais, obras de infraestrutura, iniciativas culturais e ações ambientais. Mas, no entanto, a falta de transparência na distribuição dos recursos alimenta desconfiança.
Parlamentares e especialistas cobram maior clareza na destinação do orçamento. Especialmente, diante da ampliação do número de municípios beneficiados por Itaipu.
Expansão dos beneficiados
Desde 2023, o número de municípios atendidos por projetos financiados pela hidrelétrica saltou de 54 para 434. Agora, todas as cidades do Paraná e 35 municípios do Mato Grosso do Sul podem receber investimentos de Itaipu.
A ampliação reforça o papel socioeconômico da usina. Mas, também levanta questionamentos sobre critérios de distribuição e possível uso político dos recursos.
Com a indefinição sobre a instalação da Comissão Binacional de Contas, a pressão por maior controle sobre os gastos da hidrelétrica deve crescer. Enquanto o governo adia a análise do tema, a transparência na gestão dos bilhões movimentados por Itaipu segue como um ponto de preocupação para especialistas e parlamentares.