- Aumento de juros: Copom sobe a Selic para 14,25% ao ano, o maior nível desde 2016
- Pressão política: O governo opta por culpar o antigo presidente do BC, Roberto Campos Neto, pelas altas taxas
- Desafios futuros: A expectativa é de que a Selic ainda suba mais, mas em ritmo mais lento, enquanto a inflação continua sendo um desafio
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anunciou recentemente um aumento de 1 ponto percentual na taxa Selic, levando-a para 14,25% ao ano, o maior nível desde outubro de 2016.
Com essa decisão, o BC seguiu o esperado, reiterando que o ciclo de altas na taxa de juros continuará na próxima reunião, mas em uma magnitude menor.
A alta inflação, que continua pressionando acima da meta, justifica este movimento, mas não impediu que o governo tentasse interferir nas ações do Banco Central até agora.
Com a posse de Gabriel Galípolo na presidência do BC, a dinâmica mudou. Galípolo, nomeado por Lula da Silva, substituiu Roberto Campos Neto, que Jair Bolsonaro havia indicado.
Figuras do PT, como a ex-presidente do partido, Gleisi Hoffmann, criticavam Campos Neto, acusando-o de praticar “terrorismo econômico” e de não compreender as necessidades dos trabalhadores.
Curiosamente, Gleisi, agora ministra de Lula, manteve um silêncio absoluto sobre a recente alta de juros. Esse silêncio, de fato, fala muito sobre a nova postura do governo em relação à política monetária.
Desafios de Galípolo
A transição de Campos Neto para Galípolo foi cuidadosamente orquestrada, com o BC praticamente amarrado em suas decisões de janeiro e março, o que gerou uma aprovação unânime no Copom. Isso garantiu uma transição tranquila e sem maiores críticas, mas o cenário para a próxima reunião, nos dias 6 e 7 de maio, promete ser diferente.
Não há dúvidas de que o Copom não deve elevar a Selic em 1 ponto percentual novamente, mas a expectativa é que o aumento seja de até 0,75 ponto percentual. Após isso, o futuro da política monetária dependerá do compromisso do governo com a convergência da inflação à meta, um objetivo ainda distante, conforme a avaliação do comitê.
Projeção de inflação e o desafio da política monetária
Embora o Copom tenha reduzido sua projeção de inflação para o período de 12 meses até setembro de 2026, passando de 4% para 3,9%, o índice ainda permanece acima da meta estipulada.
Uma possível contribuição para esse alívio parcial foi a valorização do câmbio, já que a cotação do dólar passou de R$ 6,00 em janeiro para R$ 5,80 em março.
Apesar dessa leve melhoria, os investidores projetam que a Selic poderá chegar a 15% ao ano. Assim, um nível elevado que reflete as dificuldades do governo em controlar a inflação.
Embora o Copom perceba uma possível moderação no crescimento da economia, ele ainda aponta que a inflação e seus núcleos continuam acima da meta e que o mercado de trabalho continua aquecido. Dessa forma, o que mantém a pressão sobre os preços. Com isso, a expectativa é que a taxa de juros continue em patamares elevados por mais algum tempo.
Responsabilidade fiscal
O governo tem adotado uma postura crítica, culpando Campos Neto pela alta dos juros, um discurso que provavelmente continuará até a próxima reunião do Copom.
Em declarações recentes, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comentou que Galípolo não poderia realizar grandes mudanças ao assumir a presidência do BC. Uma vez que, ele herdaria um cenário complicado de política monetária.
A palavra “herança maldita” não foi dita explicitamente, mas foi subentendida, especialmente considerando as dificuldades econômicas atuais.
Se o governo estivesse mais comprometido com as medidas fiscais, talvez o Brasil já estivesse em um caminho para uma Selic mais baixa. No entanto, o governo continua promovendo políticas que visam aquecimento da demanda. Especialmente, de olho nas eleições de 2026, o que pode prolongar a necessidade de juros elevados para controlar a inflação.