
- Corrupção e insegurança jurídica: EUA apontam retrocessos na Lava Jato e enfraquecimento institucional como riscos comerciais.
- Desmatamento e omissão do Estado: governo americano relaciona devastação da Amazônia à atuação corrupta de autoridades locais.
- Risco de sanções: investigação pode resultar em tarifas, perda de benefícios comerciais e abalo à reputação internacional do Brasil.
O Brasil está novamente na mira dos Estados Unidos, desta vez por motivos que vão além da economia. O Escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR) abriu uma investigação formal contra o país por práticas comerciais injustas, destacando o avanço da corrupção e o desmatamento ilegal como ameaças diretas a empresas americanas.
A ação ocorre num momento delicado, em que o Brasil enfrenta críticas internacionais por retrocessos institucionais e ambientais. A depender do desfecho da investigação, o país pode ser alvo de novas sanções econômicas, inclusive tarifas punitivas já em debate no Congresso americano
Corrupção preocupa investidores estrangeiros
Um dos pontos centrais da investigação dos EUA é o enfraquecimento do combate à corrupção no Brasil. O USTR menciona decisões judiciais que anularam condenações por suborno, acordos de leniência pouco transparentes e interferências que comprometem a independência do Judiciário.
Essas ações aumentam a insegurança jurídica e preocupam empresas americanas que atuam no país. Segundo o relatório, os riscos de suborno, favorecimento político e impunidade colocam o Brasil abaixo dos padrões internacionais exigidos em acordos comerciais e de investimento.
Para o governo americano, o ambiente institucional brasileiro está “seriamente comprometido”, o que dificulta a atuação de empresas éticas e fortalece concorrentes que operam à margem da lei.
Desmatamento ilegal e corrupção andam juntos
Outro fator de peso na investigação é o desmatamento na Amazônia. O USTR cita estudos que mostram que mais de 90% da derrubada de florestas em 2024 ocorreu de forma ilegal, muitas vezes com aval ou omissão de autoridades locais.
Para os Estados Unidos, há uma ligação direta entre corrupção e devastação ambiental. Grupos que exploram madeira ou ocupam terras públicas contam com redes de proteção dentro do aparato estatal, segundo denúncias recebidas pelo governo americano.
O relatório afirma ainda que o Brasil vem falhando sistematicamente em cumprir compromissos ambientais assumidos em tratados internacionais, prejudicando produtores que respeitam as regras e elevando a pressão sobre cadeias produtivas globais.
Sanções comerciais no horizonte
A investigação foi oficialmente aberta em 15 de julho e o governo brasileiro tem até 18 de agosto para apresentar sua defesa. Uma audiência pública será realizada em 3 de setembro em Washington para ouvir depoimentos de empresas, ONGs e especialistas.
Se confirmadas as suspeitas, o Brasil pode sofrer sanções semelhantes às que o ex-presidente Donald Trump anunciou recentemente: tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros, o que afetaria diretamente as exportações agrícolas e industriais.
O USTR também considera suspender benefícios comerciais e exigir cláusulas adicionais em acordos futuros, caso o país não demonstre avanços concretos no combate à corrupção e na preservação ambiental.
Imagem internacional em jogo
Além dos impactos econômicos, o caso afeta a imagem internacional do Brasil. A crescente percepção de que o país se tornou tolerante com práticas ilegais e destrutivas pode afastar investimentos e comprometer negociações multilaterais, como as tratativas com a União Europeia.
O episódio reacende o debate sobre o desmonte de políticas anticorrupção nos últimos anos e expõe as consequências práticas dessa trajetória. Para recuperar a confiança global, o país precisará demonstrar mudanças reais e consistentes.
Resta saber se o governo brasileiro irá reagir com reformas estruturais ou se continuará apostando na retórica diplomática. O mundo está de olho, e o tempo para respostas está se esgotando.