Alerta

Ex-BC avisa: dívida dos EUA ameaça travar economia global e juros podem disparar

Ex-presidente do BC critica trajetória fiscal dos EUA e alerta que corte de juros curtos não resolverá pressão global.

roberto campos neto banco central brasil
roberto campos neto banco central brasil
  • Juros longos seguem pressionados nos EUA mesmo com expectativa de corte em setembro
  • Campos Neto defende que a solução exige corte de gastos, não apenas redução de juros
  • Dívida alta e envelhecimento populacional formam uma “armadilha fiscal” global

O ex-presidente do Banco Central e atual vice-chairman do Nubank, Roberto Campos Neto, falou na última quinta-feira (4). Ele afirmou que os juros longos nos Estados Unidos continuarão sob pressão. Segundo Campos Neto, isso ocorrerá se o governo americano não adotar cortes de gastos.

Segundo ele, a expectativa de que o Federal Reserve (Fed) reduza a taxa básica na próxima reunião de setembro é apenas parte da equação. O endividamento crescente dos EUA e de outros países desenvolvidos tem elevado os custos de financiamento. Então, esse cenário pode comprometer a produtividade global e afetar a liquidez. Desse modo, as decisões de alocação de capital também refletem esses impactos.

Dívida no radar global

Campos Neto explicou que o desequilíbrio fiscal não é apenas um problema brasileiro. “Vários outros países vão enfrentar o mesmo tipo de problema, incluindo os Estados Unidos, que, pela primeira vez em muitas décadas, têm hoje um debate sobre o fiscal mais transparente e acirrado”, disse durante evento da Nu Asset em São Paulo.

O executivo ressaltou que a pandemia foi o ponto de virada. Assim, governos usaram estímulos fiscais ao mesmo tempo em que bancos centrais reduziram juros, o que evitou recessão naquele momento, mas deixou como herança inflação persistente e dívidas elevadas.

Esse quadro fez com que o rendimento dos títulos de longo prazo ficasse pressionado. Desse modo, para Campos Neto, os países que insistem apenas em aumentar impostos, em vez de cortar despesas, criam desincentivos ao investimento e ajudam a reduzir a produtividade.

Armadilha fiscal

Campos Neto destacou ainda que 90% dos países recorreram ao aumento de tributos no pós-pandemia, priorizando a taxação sobre o capital e não sobre a mão de obra.

Além disso, o resultado, segundo ele, foi um desincentivo adicional ao investimento em um momento já marcado por envelhecimento populacional e novas despesas, como defesa e transição energética.

“Estamos em uma armadilha: uma dívida muito grande, envelhecimento populacional e muitas contas para pagar. Se os governos não conseguirem entender que precisam reduzir gastos, terão de fazer cortes em condições iniciais muito piores”, alertou.

O que esperar daqui pra frente

O mercado acompanha com expectativa a reunião do Fed nos dias 16 e 17 de setembro.

Ademais, quase 100% das apostas já indicam um corte de 0,25 ponto percentual na taxa básica, mas o alerta de Campos Neto joga luz sobre outro risco.

Por fim, mesmo com juros curtos em queda, a curva longa pode continuar pressionada enquanto não houver ajuste fiscal concreto.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.