- Kenneth Rogoff alerta que o Brasil enfrentará juros mais altos ou inflação se não resolver sua questão fiscal
- Rogoff afirma que o presidente Lula não pode repetir as estratégias de 2003 e precisa agir de forma mais robusta para enfrentar os desafios econômicos atuais
- A possível adoção de tarifas comerciais por Donald Trump e as tensões econômicas podem impactar o crescimento global, afetando também o Brasil
Kenneth Rogoff, ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI) e atual professor da Universidade de Harvard, acredita que o Brasil avançou em alguns pontos importantes da sua economia. Mas, ainda, enfrenta um desafio crítico: a questão fiscal.
Segundo ele, sem uma abordagem eficaz sobre as finanças públicas, o país poderá se deparar com juros mais altos, inflação ou ambos.
Para Rogoff, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não pode simplesmente repetir as estratégias econômicas de seu primeiro mandato, em 2003. E, dessa forma, precisa agir com mais firmeza diante das dificuldades econômicas do cenário atual.
Cenário internacional
O economista destaca que, durante o governo Lula nos anos 2000, o Brasil se beneficiou de um contexto internacional mais favorável. Assim, com preços elevados de matérias-primas e um crescimento global robusto.
Contudo, a realidade atual é diferente. O cenário internacional está mais desafiador, e o Brasil não pode contar apenas com o bom desempenho de commodities ou a expansão da economia global para garantir seu crescimento sustentável.
Em sua visão, é essencial que o Brasil enfrente com seriedade a questão fiscal para evitar um cenário de crescimento limitado. Além de pressões inflacionárias.
Para Rogoff, a questão fiscal do Brasil é um dos maiores obstáculos para o país alcançar um crescimento econômico saudável.
Ele alerta que, sem ajustes fiscais adequados, o Brasil terá dificuldade em controlar a inflação. Ainda, o que poderá forçar o Banco Central a manter taxas de juros elevadas, prejudicando ainda mais o ambiente de negócios e o consumo.
O ex-economista-chefe do FMI sugere que a solução para essa situação passa por reformas fiscais estruturais que possam reduzir o déficit fiscal. E, assim, melhorar a sustentabilidade das finanças públicas.
Enfrentar os desafios da economia
Além disso, Rogoff afirma que o governo Lula precisará adotar uma abordagem mais robusta para enfrentar esses desafios econômicos.
“Lula não pode se parecer apenas com o Lula de 2003, ele tem que fazer melhor agora. Antes havia uma situação muito mais favorável, com preços de matérias-primas em alta e crescimento global forte. O Brasil precisa enfrentar a questão fiscal com mais determinação”, disse ele, ressaltando a importância de um planejamento econômico eficaz para enfrentar o cenário atual.
No âmbito da economia global, Rogoff também observa que o mundo enfrenta um período de incerteza, especialmente com as ações de Donald Trump nos Estados Unidos.
A possível adoção de tarifas sobre importados poderá afetar o crescimento da zona do euro e da China, dois importantes parceiros comerciais do Brasil.
O ex-economista do FMI vê essas tensões comerciais como um risco adicional para a recuperação econômica global. Dessa forma, o que pode complicar ainda mais a tarefa do Brasil em garantir um crescimento sustentável.
Em relação aos Estados Unidos, Rogoff observa que o Federal Reserve (Fed), o banco central americano, se encontra em uma posição delicada. Ele acredita que os dirigentes do Fed estão começando a questionar a necessidade de continuar reduzindo os juros, dado o forte desempenho da economia dos EUA e a inflação que não está caindo para a meta de 2%.
Segundo Rogoff, o mercado de ações nos Estados Unidos está cada vez mais próximo de uma bolha, o que poderia gerar turbulências nos próximos anos.
A conclusão da reunião de dezembro do Fed indica que a política de juros será desacelerada até que a economia diminua seu ritmo. Assim, o que terá repercussões globais.
A análise de Rogoff é um alerta para os desafios que o Brasil enfrentará nos próximos anos. Enquanto a economia brasileira está em recuperação, o país precisa tomar medidas ousadas para equilibrar suas contas públicas, enfrentar a pressão sobre a inflação e garantir um crescimento sustentável.
A economia global, marcada por incertezas e mudanças no comércio internacional, também exige atenção, já que qualquer instabilidade nos principais mercados pode impactar diretamente o Brasil.
O presidente Lula, agora em seu terceiro mandato, tem a responsabilidade de navegar nesse cenário desafiador, com um olhar atento para as reformas fiscais e a evolução das tensões globais.