
- Fim de trimestre: Empresas compram dólares para remessas ao exterior e fechamento de balanços.
- Decreto do IOF: Possível derrubada do decreto no Congresso afeta confiança fiscal.
- Cenário externo: Fala de Powell sobre inflação eleva aversão ao risco global.
O dólar encerrou a quarta-feira (25) em forte alta frente ao real, acompanhando uma combinação de fatores que ampliaram a busca dos investidores por proteção cambial.
Sendo assim, a moeda norte-americana à vista subiu 0,69%, fechando cotada a R$ 5,5575. Foi o maior patamar desde abril, em um dia marcado por incertezas no cenário político-fiscal e atuação direta do Banco Central para conter a pressão no câmbio.
Trimestre chegando ao fim pressiona o câmbio
Apesar da valorização pontual, o dólar ainda acumula queda de 2,85% em junho e de expressivos 10,06% no acumulado de 2025. Entretanto, o fechamento do trimestre força empresas e fundos a ajustar suas posições, elevando a demanda por moeda estrangeira para remessas e encerramento de balanços.
Nesse sentido, especialistas já esperavam esse movimento, mas os novos ruídos vindos de Brasília e de Washington aumentaram sua força.
Desse modo, para tentar conter a pressão compradora, o Banco Central entrou em cena com leilões de dólar, ofertando liquidez ao mercado. A atuação, porém, teve efeito limitado. Então, às 17h04, o dólar futuro para julho subia 0,78%, a R$ 5,5610, confirmando o movimento altista.
Congresso mira decreto do IOF de Lula
No radar dos investidores também esteve o projeto que pode derrubar, ainda hoje, o decreto presidencial que elevou o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Assim, parlamentares da base e da oposição se desagradaram com o texto, que enxergam como uma forma de aumentar a arrecadação sem aval do Congresso.
Além disso, a possível revogação gerou apreensão, pois coloca em xeque a estratégia fiscal do governo em um momento de fragilidade nas contas públicas. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), confirmou que a proposta seria votada ainda nesta quarta-feira. Também estava na pauta um projeto de lei que prevê isenção do IR para quem ganha até dois salários mínimos, o que tem impacto direto na arrecadação.
A movimentação legislativa contribuiu para o estresse nos mercados. Afinal, ela pode afetar a credibilidade da equipe econômica liderada por Fernando Haddad, que afirmou, na véspera, que o governo pretende “congelar” a expansão de despesas neste momento. A frase buscava acalmar os ânimos, mas foi recebida com desconfiança.
Powell volta a acender alerta sobre juros
O cenário externo também contribuiu para a aversão ao risco. Nos Estados Unidos, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, afirmou que as tarifas comerciais impostas pelo governo Biden devem pressionar a inflação em breve.
Esse tipo de declaração renova o temor de que o corte de juros nos EUA possa ser adiado ou vir de forma mais tímida. Powell prestaria novo depoimento ao Congresso ainda nesta quarta-feira, e os mercados mantinham atenção redobrada.
As expectativas sobre a política monetária dos EUA têm afetado fortemente moedas emergentes como o real. Com juros ainda elevados por lá, os investidores tendem a manter recursos em dólar e reduzir exposição em países com maior risco fiscal ou político.
Etanol e biodiesel em pauta energética
No cenário doméstico, outro tema que movimentou os mercados foi a reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), da qual participou o presidente Lula.
Nesse sentido, estava em debate o aumento das misturas obrigatórias de etanol na gasolina (para 30%) e de biodiesel no diesel (para 15%). Além disso, a medida pode gerar impacto sobre os preços dos combustíveis e, por consequência, sobre a inflação.
No entanto, por ora, não influenciou diretamente as projeções de curto prazo para o IPCA, nem a política de preços da Petrobras.