
- Fed manteve juros pela quinta vez consecutiva, contrariando Trump
- Decisão dividiu o comitê e mostra incerteza sobre futuro da política monetária
- PIB acima do esperado e inflação de 2,4% mantêm pressão sobre ativos de risco
O Federal Reserve (Fed) decidiu nesta quarta-feira (30) manter as taxas de juros no intervalo entre 4,25% e 4,50% ao ano. É a quinta vez consecutiva que a autoridade monetária segura os juros, mesmo diante da pressão pública do presidente Donald Trump por cortes mais agressivos.
Apesar da manutenção amplamente esperada pelo mercado, a decisão desta vez veio com divisão interna: apenas nove dos 12 membros do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) votaram a favor da estabilidade. Dois membros defenderam um corte de 0,25 ponto percentual, indicando crescente tensão sobre o rumo da política monetária.
Trump pressiona, mas Fed mantém cautela
Desde sua posse, Trump tem cobrado publicamente que o Fed reduza os juros, com o argumento de que a política monetária está “freando desnecessariamente” o crescimento econômico. A insistência do presidente acirrou a percepção de interferência política sobre a autoridade monetária, algo que o Fed historicamente busca evitar.
Na coletiva após a decisão, o presidente do Fed, Jerome Powell, reforçou que a política monetária continua guiada por dados e metas de longo prazo. Ele negou qualquer pressão externa e afirmou que “não há decisão tomada” sobre cortes em setembro. Segundo Powell, a prioridade continua sendo o equilíbrio entre inflação e emprego.
O comunicado do Fed destaca que a incerteza quanto ao cenário econômico ainda é elevada. Apesar do desemprego seguir baixo e da atividade mostrar resiliência, os dirigentes ainda veem a inflação em patamar ligeiramente acima da meta de 2%.
Economia forte complica corte de juros
A divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) americano no segundo trimestre surpreendeu o mercado. A economia cresceu 3% em base anualizada, acima das projeções que oscilavam entre 2,3% e 2,4%. O dado reforça a robustez da atividade e dificulta um corte de juros imediato, já que não há sinais claros de desaceleração.
Além disso, o índice PCE (Personal Consumption Expenditures), principal métrica usada pelo Fed para monitorar a inflação, subiu 2,4% nos 12 meses até maio. O dado de junho será conhecido nesta quinta-feira (31) e pode definir o tom da próxima reunião do comitê.
Com a atividade forte e a inflação ainda fora da meta, há pouco espaço para que o Fed inicie um ciclo de cortes sem comprometer sua credibilidade. Por outro lado, a divisão interna mostra que uma parte do comitê já considera que o aperto monetário está perto do fim.
Efeitos globais: o que muda para os mercados
A decisão do Fed é acompanhada de perto por investidores em todo o mundo. Juros altos nos Estados Unidos tendem a atrair capital para ativos mais seguros, como os títulos do Tesouro, e reduzir o apetite por risco, o que afeta mercados emergentes como o Brasil.
Assim, com a taxa de juros americana mantida, o diferencial entre os juros locais e internacionais continua apertado. Isso dificulta a entrada de capital estrangeiro na B3 e pode manter o dólar pressionado, principalmente em meio ao cenário de incertezas fiscais e políticas no Brasil.
Por fim, a sinalização de que o Fed ainda não vê espaço para cortes fortalece a renda fixa nos EUA e reforça a cautela dos investidores com ativos mais arriscados. Ao mesmo tempo, a divisão interna no Fomc sugere que o ciclo de aperto pode ter atingido o limite, o que alimenta apostas para cortes a partir do fim do ano.