As farmácias de Santos, no litoral de São Paulo, já estão enfrentando uma escassez significativa de Ozempic. O medicamento originalmente desenvolvido para o tratamento de diabetes tipo 2, mas que ganhou popularidade nos últimos tempos como uma “solução para a perda de peso”.
Cartazes foram afixados nas vitrines de diversas drogarias, alertando os consumidores sobre o “abastecimento irregular” e a falta de previsão para a normalização do estoque.
O que diz a fornecedora?
Segundo a Novo Nordisk, fornecedora do remédio, a escassez não se limita somente à região de Santos, mas se estende por todo o Brasil. A empresa explica que a demanda por Ozempic superou as previsões iniciais. O que dificultou, portanto, a reposição adequada dos estoques.
A fabricante tranquilizou os consumidores afirmando que o produto não será descontinuado, uma vez que não há problemas regulatórios ou de qualidade. No entanto, a complexidade da cadeia de distribuição e o alto volume de pedidos estão provocando uma reposição gradual e demorada.
Ozempic, com semaglutida como princípio ativo, foi inicialmente desenvolvido para ajudar no controle da glicemia de pacientes com diabetes tipo 2, além de reduzir o risco de complicações cardiovasculares. No entanto, o medicamento acabou se tornando um “curinga” para quem busca emagrecer.
A substância tem a capacidade de induzir uma sensação de saciedade prolongada. Assim, o que faz com que muitas pessoas a procurem como uma forma eficaz de perder peso.
Utilização indiscriminada
A procura intensa e a utilização indiscriminada do Ozempic para emagrecimento têm gerado um impacto direto na oferta do medicamento. Dessa forma, afetando principalmente aqueles que realmente necessitam da medicação para o controle de suas condições de saúde.
A situação tem gerado uma crescente preocupação entre os profissionais de saúde, principalmente em relação à venda do medicamento sem a devida prescrição médica, uma prática que coloca em risco a saúde pública.
Em um aviso afixado em uma farmácia localizada no bairro Gonzaga, em Santos, os consumidores foram orientados a buscar orientação médica para a troca do medicamento, já que o Ozempic não estava disponível.
A farmácia informou ainda que, devido à “irregularidade no abastecimento”, não seria possível prever quando o medicamento voltaria às prateleiras.
Opinião médica
O endocrinologista e metabologista José Marcelo Natividade destacou que o uso do Ozempic para emagrecimento tem gerado um aumento considerável na demanda pelo medicamento. O que, por sua vez, tem prejudicado os pacientes diabéticos que realmente dependem da substância para o controle da doença.
“A escassez do Ozempic não é apenas um problema logístico, mas uma questão ética e sanitária, pois pacientes com diabetes não podem ficar sem acesso ao medicamento”, afirmou Natividade.
Renato Lobo, médico especializado em Nutrologia e Medicina Esportiva, também levantou preocupações sobre o uso indiscriminado do Ozempic para fins estéticos. Para ele, a venda sem receita médica é a principal razão da falta de abastecimento, pois as farmácias muitas vezes comercializam o remédio sem a devida orientação profissional, o que pode acarretar sérios riscos à saúde.
“Quando feito com a supervisão médica adequada, o uso de Ozempic pode trazer benefícios ao paciente, mas a venda sem controle prejudica tanto os consumidores quanto a sociedade”, explicou Lobo.
De acordo com José Marcelo, a venda sem prescrição médica do Ozempic não só é ilegal, como pode colocar em risco a saúde dos indivíduos que buscam o medicamento sem saber exatamente como usá-lo de maneira segura.
Embora a regulamentação proíba a venda sem receita, relatos de farmácias que violam essa norma têm se tornado cada vez mais comuns, especialmente em um cenário de alta demanda.
Comercialização ilegal
A escassez de Ozempic em todo Brasil, reflete uma realidade mais ampla, onde o aumento da procura, combinado com a distribuição irregular e a comercialização ilegal, tem causado sérios problemas tanto para quem precisa do medicamento para o controle do diabetes quanto para aqueles que buscam resultados rápidos para emagrecimento.
Especialistas alertam que, para evitar que a crise se agrave, é essencial que as autoridades e os profissionais de saúde trabalhem em conjunto para assegurar o uso responsável do medicamento. E, assim, garantir que ele chegue a quem realmente necessita.