
- A fortuna do 1% mais rico cresceu US$ 33,9 trilhões desde 2015, o suficiente para erradicar a pobreza mundial 22 vezes.
- Países ricos estão cortando ajuda ao desenvolvimento, enquanto dívidas sufocam países pobres.
- Oxfam propõe taxação dos bilionários e nova abordagem centrada em políticas públicas e justiça social.
Um novo relatório da organização Oxfam Internacional revelou que o 1% mais rico do planeta acumulou US$ 33,9 trilhões — cerca de R$ 185 trilhões — em menos de uma década. Assim, o estudo afirma que esse montante seria suficiente para acabar com a pobreza global não apenas uma, mas 22 vezes.
Enquanto isso, cerca de 3,7 bilhões de pessoas seguem tentando sobreviver com menos de R$ 45 por dia. A pesquisa foi publicada nesta quarta-feira (25), às vésperas da maior conferência sobre financiamento do desenvolvimento dos últimos dez anos, marcada para o fim de junho em Sevilha, na Espanha.
Concentração de riqueza sufoca o combate à pobreza
Segundo o relatório intitulado “Do Lucro Privado ao Poder Público”, a fortuna de apenas 3 mil bilionários cresceu US$ 6,5 trilhões entre 2015 e 2024. Esse valor representa 14,6% de todo o PIB global atual, demonstrando a velocidade da concentração de riqueza nas mãos de poucos.
Ademais, de acordo com Amitabh Behar, diretor-executivo da Oxfam, essa desigualdade não é natural nem inevitável. Ele argumenta que o modelo de desenvolvimento atual prioriza os interesses de grandes investidores, em detrimento das necessidades reais da maioria da população mundial. “Essa concentração extrema de riqueza está sufocando os esforços para acabar com a pobreza”, declarou.
Desse modo, outro dado alarmante é o contraste entre o crescimento da riqueza privada global — que saltou US$ 342 trilhões — e a riqueza pública, que cresceu apenas US$ 44 trilhões no mesmo período. Ou seja, os governos ficaram oito vezes mais pobres, em proporção, do que os indivíduos mais ricos.
Cortes e dívidas aprofundam o problema
O estudo também alerta para o retrocesso em políticas públicas de apoio aos mais vulneráveis. Governos de países ricos, especialmente os do G7, estão promovendo os maiores cortes já registrados em ajuda humanitária e ao desenvolvimento. Apenas entre 2024 e 2026, os cortes projetados somam 28% nos repasses oficiais.
Sendo assim, a consequência pode ser devastadora. A Oxfam estima que até 2,9 milhões de pessoas podem morrer até 2030 em decorrência da redução do financiamento internacional para o combate ao HIV/AIDS. Além disso, 60% dos países mais pobres do mundo estão à beira do colapso financeiro por causa das dívidas externas. Muitos desses governos gastam mais pagando juros do que investindo em educação ou saúde.
Em suma, a ONG ressalta que os principais credores são privados e se recusam a renegociar prazos, o que aprisiona países inteiros em ciclos de pagamento insustentáveis. “A ajuda está diminuindo, enquanto a dívida explode. E quem paga a conta são os pobres”, reforçou Behar.
População quer mudança e taxação dos super-ricos
Apesar do cenário preocupante, a pesquisa revela que 9 em cada 10 pessoas apoiam a taxação dos ultrarricos para financiar serviços públicos e enfrentar a crise climática. A pesquisa foi aplicada em 13 países, incluindo Brasil, Índia, África do Sul, França, Canadá e Estados Unidos.
A Oxfam defende que está na hora de romper com o chamado “consenso de Wall Street”, que prioriza o lucro privado acima de tudo. A ONG propõe uma nova abordagem, com políticas públicas robustas, tributação progressiva e cooperação internacional para reduzir desigualdades.
Entre as medidas sugeridas estão: criar alianças entre países para enfrentar desigualdade, reformar o sistema global de dívidas, investir em serviços públicos em vez de confiar no setor privado e ir além do PIB como indicador de desenvolvimento.
Behar encerra o relatório com uma mensagem direta aos governos: “Trilhões de dólares estão aí, mas concentrados nas mãos de poucos. Está na hora de escutar o que o mundo está pedindo: taxar os ricos e investir no que realmente importa”.