
Uma testemunha chave em investigações sobre fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) afirmou que Fábio Luís Lula da Silva, conhecido como Lulinha e filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, recebia uma mesada mensal de cerca de R$ 300 mil do empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, apelidado de “Careca do INSS”. A revelação, feita em depoimento à Polícia Federal e à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS, expõe supostas conexões familiares do presidente com o esquema bilionário de descontos associativos irregulares em benefícios previdenciários.
O depoimento de Edson Claro, ex-funcionário de Antunes, ocorreu em 29 de outubro de 2025. Claro alegou estar sendo ameaçado por seu antigo patrão e detalhou pagamentos regulares a Lulinha, além de uma suposta transação única de R$ 25 milhões. “Era uma mesada de cerca de R$ 300 mil“, afirmou a testemunha, segundo documentos da CPMI. Ele também mencionou viagens conjuntas de Lulinha e Antunes a Portugal, onde o empresário opera a Camilo Comércio e Serviços S/A (World Cannabis), suspeita de lavagem de dinheiro oriundo das fraudes no INSS.
“Nosso amigo”
Antunes, preso pela Polícia Federal em 12 de setembro de 2025, é apontado como figura central no esquema que desviou bilhões de aposentados e pensionistas por meio de descontos não autorizados. Conversas de WhatsApp apreendidas pela PF referem-se a Lulinha como “nosso amigo” e “Fábio (filho Lula)”, com menções a eventos e aprovações de negócios. Um relatório de Inteligência Financeira (Coaf RIF nº 133.609) liga movimentações financeiras entre os envolvidos, incluindo repasses de mais de R$ 1 milhão à consultora Roberta Moreira Luchsinger, amiga de Lulinha, sob suspeita de tráfico de influência.
Lulinha negou veementemente as acusações por meio de seu ex-advogado, Marco Aurélio Carvalho, chamando-as de “absolutamente pirotécnica e improvável”, uma tentativa de denegrir sua imagem. A defesa de Antunes informou não ter acesso às informações para comentar. Luchsinger, por sua vez, limitou sua relação com Lulinha a viagens de lazer e negou qualquer vínculo com descontos no INSS, afirmando que seu trabalho se restringia a discussões iniciais sobre regulação de canabidiol.
Mais um familiar de Lula sob escrutínio: TCU investiga sindicato ligado a irmão do presidente
O escândalo ganha contornos ainda mais graves com a inclusão de outro parente do presidente. Em maio de 2025, o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou a abertura de investigação contra o Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos da Força Sindical (Sindnapi), presidido por José Ferreira da Silva, conhecido como Frei Chico, um dos 17 irmãos de Lula.
De acordo com relatório da Controladoria-Geral da União (CGU), 76,9% dos beneficiários do INSS com descontos associados ao Sindnapi afirmaram nunca terem autorizado as cobranças. A entidade viu sua receita saltar de R$ 23 milhões em 2020 para R$ 154 milhões em 2024, graças aos repasses fraudulentos. O ministro Aroldo Cedraz, do TCU, acatou representação da bancada do Novo no Congresso e ordenou inspeções no Ministério da Previdência, INSS e Dataprev para mapear todas as consignações irregulares, suspender acordos de cooperação técnica e identificar servidores públicos envolvidos.
“Entendo necessário que a diligência proposta pela unidade técnica seja ampliada para a investigação quanto a todas as entidades associativas, bem como deve ser realizada inspeção específica para identificar todas as entidades potenciais fraudadoras e os servidores públicos que facilitaram as fraudes, para que sejam apuradas as responsabilidades devidas”, declarou Cedraz em despacho.
A deputada Adriana Ventura (Novo-SP) criticou a situação: “O sindicato do irmão do Lula não pode ficar impune diante de indícios tão graves de fraude. É um escândalo que envolve o desvio de dinheiro de aposentados, justamente os mais vulneráveis”. A CNN Brasil tenta contato com o Sindnapi para obtenção de posicionamento.
Contexto do esquema e desdobramentos
O esquema de fraudes no INSS, revelado ao longo de 2025, envolve descontos associativos não autorizados que somam bilhões de reais em prejuízos a aposentados vulneráveis. A CPMI do INSS, instalada no Congresso, ouve testemunhas e analisa evidências da PF, que indicam lavagem de recursos via empresas como a World Cannabis, com operações no Brasil, Portugal, EUA e Colômbia. Lulinha é citado em voos compartilhados com Antunes, como um de Guarulhos a Lisboa em 13 de junho de 2024.
A proximidade de familiares do presidente com entidades e figuras centrais no caso levanta questionamentos sobre influência política. A PF e o TCU avançam nas apurações, com possibilidade de indiciamentos por crimes como lavagem de dinheiro e tráfico de influência (artigo 332 do Código Penal). Até o momento, não há pronunciamento oficial do Planalto sobre as denúncias envolvendo Lulinha e Frei Chico.
O caso segue em andamento, com sessões da CPMI marcadas para os próximos dias. Atualizações serão publicadas conforme novas informações surgirem.
Fontes: Poder360, Metrópoles, CNN Brasil. Este material é jornalístico e baseado em depoimentos e relatórios oficiais.