
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a ser alvo de críticas, desta vez por não indicar uma mulher para a nova vaga aberta no Supremo Tribunal Federal (STF). Nomes femininos que vinham sendo cotados demonstraram frustração e descrença diante das articulações políticas que apontam para mais um homem no cargo.
A ausência de uma mulher na escolha reacendeu o debate sobre representatividade de gênero e diversidade racial na mais alta instância do Judiciário brasileiro, que teve apenas três ministras em toda a história — nenhuma delas negra.
“Nunca é a hora”, dizem juristas
Entre as mulheres cotadas, Mônica de Melo, defensora pública de São Paulo, resumiu o sentimento em uma frase: “Nunca é o momento, nunca é a hora”. Segundo ela, as candidatas enfrentam uma régua mais alta de exigência e, mesmo com currículo robusto, são preteridas por aliados políticos.
A promotora Lívia Sant’Anna Vaz, também citada em listas de possíveis indicações, afirmou que a nova escolha masculina representaria um “déficit democrático”. Para ela, o espelho do STF segue refletindo “imagens de homens brancos sobre as necessidades reais da sociedade”.
Outras juristas ouvidas reforçam que o padrão de exclusão feminina não é pontual, mas estrutural, e que o governo falha em aplicar o discurso de igualdade à prática de suas decisões políticas.
Bastidores da indicação
A vaga no STF foi aberta com a aposentadoria antecipada de Luís Roberto Barroso, e os bastidores em Brasília indicam três principais nomes masculinos: Jorge Messias, atual advogado-geral da União; Bruno Dantas, ministro do TCU; e Rodrigo Pacheco, ex-presidente do Senado.
Dentro do Planalto, a escolha de Messias é vista como a mais provável, já que ele mantém forte ligação com Lula desde os tempos da Lava Jato. A opção por um nome ligado ao governo é interpretada por parte do meio jurídico como politização da Corte e reforço de laços pessoais, em vez de mérito técnico e diversidade.
Enquanto isso, movimentos de mulheres juristas organizam abaixo-assinados e campanhas nas redes pedindo que o presidente reconsidere a decisão. O manifesto, que já soma mais de 60 mil assinaturas, cobra “uma mulher negra no Supremo”.
Reações e impacto político
Nos corredores de Brasília, o sentimento é de decepção entre parlamentares e magistradas que esperavam um gesto simbólico do governo em prol da equidade. A escolha masculina, segundo aliados do Planalto, seria “estratégica” para garantir fidelidade política e segurança jurídica em temas sensíveis.
No entanto, o gesto pode ter efeito contrário: ao ignorar a pauta de gênero, Lula fragiliza sua imagem progressista e distancia parte do eleitorado feminino e de movimentos sociais que o apoiaram em 2022.
A decisão, portanto, não afeta apenas a composição do STF, mas também a narrativa política do governo, que busca se equilibrar entre pragmatismo e coerência ideológica.
Principais pontos
- Juristas apontam frustração com Lula por não indicar mulher ao STF
- Movimentos feministas denunciam déficit democrático e falta de diversidade
- Decisão reforça críticas sobre politização e baixa representatividade no Judiciário