Números crescentes

Fuga da poupança: brasileiros sacaram R$ 15,47 bilhoes em 2024

Saques seguem superando os depósitos e migração para outros investimentos de maior rentabilidade é tendência entre os brasileiros.

Lucro real da poupanca agora e negativo
Lucro real da poupanca agora e negativo
  • A caderneta de poupança teve uma retirada líquida de R$ 15,5 bilhões em 2024, marcando o quarto ano consecutivo de saques superiores aos depósitos
  • Com a rentabilidade da poupança limitada pela taxa Selic, brasileiros têm migrado para opções mais rentáveis, como o Tesouro Direto e CDBs
  • O rendimento da poupança, atrelado à Selic, não tem superado as altas taxas de juros, o que tem levado os investidores a buscar alternativas com maior rentabilidade

A caderneta de poupança no Brasil registrou uma perda de mais de R$ 15,5 bilhões em 2024, conforme dados divulgados nesta quarta-feira (8) pelo Banco Central.

Este é o quarto ano consecutivo em que os saques superam os depósitos na poupança, demonstrando uma mudança no comportamento dos brasileiros em relação a este tipo de investimento tradicional.

O saldo negativo de 2024 segue a tendência de 2023, quando o valor retirado superou em quase R$ 88 bilhões o montante depositado. E, o de 2022, quando o resultado foi ainda pior, atingindo R$ 103 bilhões.

De acordo com o Banco Central, em 2024, os depósitos na caderneta somaram R$ 4,197 trilhões, enquanto os saques alcançaram R$ 4,212 trilhões. Mesmo com os rendimentos de R$ 64,3 bilhões gerados ao longo do ano, o saldo final da poupança foi de R$ 1,031 trilhão ao fim de dezembro, o que reflete a retirada líquida no período.

Sem atratividade

Os números evidenciam que, apesar de a poupança ainda ser vista como uma opção segura por muitos brasileiros, ela tem perdido sua atratividade diante de outras alternativas de investimentos.

Este cenário de perdas constantes na caderneta de poupança não é recente. Em 2021, o saldo negativo foi de R$ 35 bilhões, e desde então, os brasileiros têm mostrado cada vez mais disposição para retirar recursos das cadernetas.

A migração de investidores para outros produtos da renda fixa tem sido uma das explicações para essa mudança de comportamento.

Os investidores têm buscado alternativas que ofereçam rentabilidade superior. Principalmente com a recente melhora das perspectivas para os títulos públicos, como os do Tesouro Direto.

Taxa Selic

A principal razão para essa migração é o baixo rendimento da poupança, que é diretamente atrelado à taxa Selic, a taxa básica de juros da economia brasileira.

Quando a Selic está acima de 8,5% ao ano, o rendimento da poupança é de 0,5% ao mês, acrescido da Taxa Referencial (TR), que atualmente está praticamente zerada.

Já quando a Selic é igual ou inferior a 8,5%, o rendimento da poupança passa a ser de 70% da Selic ao ano, mais a TR.

Isso significa que, em um cenário de juros elevados, o rendimento da poupança acaba ficando abaixo das expectativas. Fazendo com que, os investidores que buscam alternativas com maior rentabilidade.

Em 2024, os títulos do Tesouro Nacional se destacaram no cenário de investimentos. Os papéis públicos, especialmente os de curto e médio prazo, bateram recordes de rentabilidade. Assim, acompanhando o movimento da taxa Selic e as expectativas de inflação para o futuro.

Esses investimentos se tornaram cada vez mais atraentes em um contexto de juros altos, que pressionam o rendimento da poupança. Já que ela não consegue acompanhar a evolução das taxas de juros de forma eficiente.

Reflexo

A migração para investimentos mais rentáveis é um reflexo da busca por melhores retornos em um ambiente econômico.

Com a poupança perdendo força, os brasileiros têm se voltado para alternativas mais rentáveis. Como: o Tesouro Direto, CDBs de bancos e outros fundos de investimento. Essas opções, além de proporcionar maior rentabilidade, apresentam uma maior diversificação. E, em alguns casos, maior liquidez, o que as torna ainda mais atrativas para o público que, antes, considerava a poupança uma forma segura de guardar dinheiro.

Inflação

Além disso, os desafios impostos pela inflação também têm pressionado os investidores a procurar alternativas que possam gerar ganhos reais, ou seja, que superem a inflação e garantam poder de compra no longo prazo.

A rentabilidade da poupança, por sua vez, tem se mostrado incapaz de oferecer essa segurança em termos de preservação do poder de compra. O que, no entanto, intensifica a migração para outros produtos financeiros.

Em resumo, os dados de 2024 reforçam a tendência de que a poupança não é mais a opção preferida pelos brasileiros para investimentos de longo prazo.

O cenário de juros elevados, juntamente com a maior atratividade de outros produtos da renda fixa, tem levado os investidores a reconsiderar suas estratégias financeiras. E, assim, buscar alternativas que ofereçam melhores retornos, especialmente diante da baixa rentabilidade oferecida pela caderneta de poupança.