
- Investimento de Daniel Vorcaro na SAF do Atlético-MG veio de fundos Hans 95 e Olaf 95, citados em investigação por ligação com o PCC.
- Documentos da CVM revelam estrutura “fundo sobre fundo” e patrimônio de R$ 300 milhões no Galo Forte FIP.
- Atlético-MG, Reag e Banco Master negam qualquer irregularidade, mas o caso pressiona por transparência.
O investimento de Daniel Vorcaro na SAF do Atlético-MG levanta suspeitas. Documentos da CVM revelam conexões com fundos de investimento sob investigação do Ministério Público de São Paulo (MP-SP). A apuração de Rodrigo Capelo indica que o dinheiro aplicado no clube teria origem nos fundos Hans 95 e Olaf 95, ambos citados na Operação Carbono Oculto, que investiga lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio ligados ao PCC.
Esses fundos formariam uma cadeia complexa, do tipo “fundo sobre fundo”, mecanismo usado para dificultar o rastreamento de beneficiários finais. Além disso, os registros mostram que os valores coincidem com os R$ 300 milhões investidos por Vorcaro entre 2023 e 2024 na Galo Holding S.A., empresa que controla 75% da SAF atleticana.
A trilha do dinheiro até o Galo
De acordo com documentos da CVM, o Galo Forte FIP, usado por Vorcaro para deter 26,9% da Galo Holding, está no fim de uma rede de fundos encadeados. No topo aparecem Hans 95 e Olaf 95, ambos sob gestão da Reag Investimentos. Esses fundos são investigados pelo MP-SP como pilares da estrutura financeira do crime organizado.
Esses veículos, por sua vez, possuíam cotistas únicos e aplicavam recursos entre si, criando camadas sobrepostas que dificultavam a identificação do beneficiário final. Além disso, o Olaf investia no Hans, que aplicava em Alepo, Anna e Sven, todos nomes inspirados em personagens do filme Frozen.
Na sequência, o Alepo direcionava recursos ao Maia, que concentrava 93% de sua carteira no fundo Astralo. Este, por fim, aparece como único cotista do Galo Forte FIP, que investe exclusivamente na Galo Holding, controladora direta da SAF atleticana. Assim, forma-se um fluxo financeiro opaco, que levanta questionamentos sobre transparência e origem dos recursos.
As respostas de Atlético, Reag e Banco Master
O Atlético-MG declarou que o Galo Forte FIP é um veículo de investimento regular, devidamente registrado e administrado pela Trustee DTVM. Em nota, o clube afirmou não ter conhecimento de irregularidades e ressaltou que todas as operações seguem as normas da CVM.
A Reag Investimentos, por outro lado, destacou que atua apenas como administradora dos fundos e não possui controle sobre eles. Além disso, a empresa informou que seu negócio de administração está em processo de venda para outra instituição financeira, reforçando que não participa da gestão direta dos recursos.
Já o Banco Master, comandado por Vorcaro, negou qualquer relação com os fundos citados. A instituição explicou que o Galo Forte FIP é de propriedade do próprio Daniel Vorcaro, como pessoa física, e que a operação foi analisada e aprovada pelo CADE, em conformidade com a legislação vigente.
O peso da Operação Carbono Oculto
A Operação Carbono Oculto, conduzida pelo MP-SP, investiga um esquema bilionário de lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio com ramificações no sistema financeiro nacional. Segundo os promotores, os fundos Hans e Olaf ocupam posição central na estrutura criminosa, movimentando mais de R$ 50 bilhões por meio de camadas sucessivas de investimento.
Esse modelo de operação cria uma teia de transações que dificulta o rastreamento do dinheiro e compromete a transparência das movimentações. No caso da SAF do Atlético-MG, embora o clube e seus investidores não sejam alvo direto da investigação, o rastro financeiro já gera risco reputacional e pressão por esclarecimentos públicos.
Enquanto o processo segue em sigilo, o mercado acompanha com cautela os desdobramentos. Afinal, o caso pode afetar a credibilidade das SAFs e mudar a forma como fundos complexos são usados em investimentos esportivos, um modelo que ganha força no futebol brasileiro.